Mamadeira: recomendações da pediatra

Se você acompanha este blog ou os meus posts no Instagram já sabe que eu falo com frequência sobre nutrição e já dediquei alguns textos sobre amamentação, inclusive destacando as fases do leite – o colostro, o leite de transição e o leite maduro. Mas passados os primeiros seis meses, período de amamentação exclusiva no seio da mãe, chegou a hora da mamadeira?

A resposta é “não”! Talvez tenha chegada a hora da transição alimentar, mas a hora da mamadeira simplesmente não deve chegar, para as mães que têm a possibilidade de manter o aleitamento materno! E essa recomendação vale tanto para a mamadeira quanto para a chupeta!

Siga comigo neste texto para entender porque o uso da mamadeira traz impactos negativos tanto para a nutrição quanto para o desenvolvimento fisiológico do bebê, especialmente sobre a sua dentição e respiração!

Transição alimentar

 

É no seio que se dá o ato de amamentar

No meu texto sobre amamentação eu detalhei todos os benefícios que o aleitamento materno traz para bebês de até seis meses de idade. Como nunca é demais lembrar, vamos resumi-los aqui. O aleitamento materno:

  • Desenvolve as funções motoras dos músculos da face que atuam na sucção e as coordena com a deglutição
  • Desenvolve a compreensão, mesmo que inconsciente, de saciedade
  • Fortalece as defesas do bebê, uma vez que o leite materno é carregado de imunoglobulinas, que são as proteínas que atuam no sistema imunológico

 Os benefícios do aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses são evidentes e conhecidos há anos. Existem casos em que ele não é possível e, portanto, podem ser utilizadas fórmulas, como expliquei no texto sobre alimentação e fórmula infantil. De qualquer forma é importante registrar que, nos casos da impossibilidade de aleitamento materno exclusivo, não deve ser usado o leite de vaca tradicional, aquele encontrado em supermercados e padarias, para a alimentação de crianças menores de seis meses.

Como escrevi no texto sobre amamentação, o leite materno é o alimento ideal para bebês: ele é seguro, limpo e contém anticorpos que ajudam a proteger a maioria das doenças que acometem crianças de até seis meses. E como expliquei no texto sobre alimentação e fórmula infantil ela é, depois do leite materno, o produto mais adequado ao organismo do bebê de até seis meses de vida.

Além dos benefícios do alimento que está sendo ingerido, há outras preocupações sobre o uso da mamadeira. Bebês alimentados com ela podem ter chances menores de regular o apetite ao longo da infância, mesmo quando o leite que está na mamadeira é o da mãe, uma vez que os cuidadores tendem a estimular o bebê a consumir tudo que está na mamadeira, mesmo que ele já esteja saciado.

Caso a mãe precise se ausentar por um período, boas alternativas são um copinho ou a colher dosadora.

Mamadeira: impactos negativos na dentição e na respiração

Outro benefício que a amamentação no seio materno traz é o adequado desenvolvimento craniofacial do bebê, uma vez que ela promove um intenso exercício da musculatura orofacial, estimulando a respiração, deglutição, mastigação e fonação.

Bebês, mesmo maiores de seis meses, e crianças que fazem uso da mamadeira tendem a ter o selamento labial passivo prejudicado, pior desenvolvimento dos maxilares e menor capacidade de respiração nasal, como mostra o estudo de Karina Carrascoza, Rosana Possobon, Laura Tomita e Antônio Moraes, pesquisadores da Unicamp.

O uso da mamadeira faz com que a língua atue como um dosador da saída do leite. Ela fica incapaz de permanecer na posição correta. Sem a devida função, a língua passa a repousar no arco inferior, permitindo que o ar entre pela boca, comprometendo assim a respiração nasal.

Além disso, o repouso da língua no arco inferior pode agir como matriz para o crescimento inadequado da mandíbula. Associada à ausência de passagem de ar pelo nariz, essa ocorrência pode levar ao desenvolvimento da mordida cruzada anterior, que é uma das causas mais comuns do uso de aparelhos ortodônticos na infância e na adolescência.

Eu sei que mamadeira e chupeta estão muito presentes na nossa cultura. Sim, nós as usamos, assim como nossos pais e possivelmente até os nossos avós. Contudo, da mesma forma que a ciência avançou para descobrirmos que é fundamental buscar o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida da criança, hoje sabemos que o uso da mamadeira e da chupeta podem prejudicar o correto desenvolvimento fisiológico das crianças.

Se sua filha ou filho está com dificuldade de amamentar e você não tem encontrado alternativa para dar o leite materno ou fórmula a ela ou ele, entre em contato para marcarmos uma consulta. Como citei no texto há formas de oferecer leite materno ou fórmula infantil que não prejudicam o desenvolvimento da respiração e dentição da sua filha ou filho.