Teste do coraçãozinho

Do final do ano passado para cá, tenho dedicado alguns textos do site e posts no Instagram sobre os exames de triagem neonatal. Já falei do teste do pezinho, da orelhinha e do olhinho. Neste texto falarei sobre o teste do coraçãozinho, o último exame que está no Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN).

Como este é o último texto dessa sequência sobre os exames de triagem neonatal, vou aproveitar para reforçar sua importância. Esses testes permitem o diagnóstico precoce de doenças em bebês. Quando identificadas em fase pré-sintomática, conseguimos instituir o tratamento no tempo adequado, diminuindo e até eliminando as sequelas associadas a cada doença e, consequentemente, mudando completamente a história do paciente.

Desde 2014 que o teste do coraçãozinho está incorporado à triagem neonatal realizada pelo SUS. Graças ao exame, malformações e cardiopatias conseguem ser identificadas rapidamente. E a importância do teste do coraçãozinho pode ser descrita em dados. De acordo com o Ministério da Saúde, anualmente nascem cerca de 30 mil crianças no país com alguma cardiopatia congênita. Elas são a terceira principal causa de óbito no período neonatal.

Transição alimentar

 

O que é e para que serve?

O que chamamos popularmente de teste do coraçãozinho nada mais é do que o exame de oximetria de pulso, o mesmo que muitas pessoas fizeram diversas vezes ao longo da pandemia da Covid-19. Inclusive o equipamento utilizado, o oxímetro, é o mesmo.

O método de medição que o equipamento usa é a espectrofotometria. Em outras palavras, é mensurada a quantidade de luz de uma solução – no caso do oxímetro, a solução é o sangue do paciente. O equipamento emite luz com dois comprimentos de ondas diferentes que são absorvidas pelas parcelas do sangue que têm mais e menos oxigênio.

A proporção da absorção da luz nos dois comprimentos de onda é calculada pelo equipamento que informa a saturação de oxigênio, a SpO2, do bebê. Ela é a medida que indica a concentração de oxigênio. Em outras palavras, o teste do coraçãozinho mensura quanto de sangue oxigenado está chegando nas extremidades do recém-nascido.

Quando identificada uma baixa saturação de oxigênio no sangue, quadro conhecido como hipoxemia, o bebê é encaminhado para fazer um ecocardiograma. Um quadro de hipoxemia pode sinalizar patologias ou má formações, como a hipoplasia ventricular,  a transposição de grandes artérias ou a tetralogia de Fallot.

 

Teste do coraçãozinho: procedimentos

É fortemente recomendado que o exame seja feito antes do recém-nascido completar 48 horas de vida. Bebês prematuros “tardios” – ou seja, os que nasceram com mais de 34 semanas – também devem realizar o exame.

Assim como os testes do olhinho e da orelhinha, o do coraçãozinho é não invasivo e indolor. Para a realização do exame, deita-se confortavelmente o recém-nascido, mantendo seus pés e mãos bem aquecidos. Como os dedos do bebê são muito pequeninos, um extensor, em forma de pulseira, é conectado ao oxímetro.

São necessárias duas medições: uma no pulso ou mão direita e outra na extremidade de um dos membros inferiores. O oxímetro deve captar uma onda de traçado homogêneo. O tempo de medição normalmente varia entre três e cinco minutos.

Os valores de referência de saturação de oxigênio de um recém-nascido são diferentes de um adulto. Se a saturação do bebê estiver abaixo de 95% ou se houver uma diferença maior do que 3% entre a medida da extremidade do membro superior e a do inferior, o teste do coraçãozinho é repetido. Caso o resultado permaneça abaixo dos valores de referência, o recém-nascido é encaminhado para fazer um ecocardiograma ou outro exame de maior acurácia.

Mesmo bebês que não apresentaram resultados anormais no teste do coraçãozinho devem ter sua condição cardíaca e circulatória acompanhadas nas consultas de puericultura. A identificação de uma cardiopatia congênita crítica no primeiro ano de vida do bebê altera completamente o curso da doença do paciente ao longo de toda a sua vida. Caso alguma das cardiopatias seja diagnosticada rapidamente, a melhora da condição do paciente pode ser alcançada sem uma abordagem invasiva.

Futuros papais e mamães: se a data prevista do parto do seu bebê está chegando, converse com a sua pediatra sobre a importância do teste do coraçãozinho. E caso o resultado do exame, na maternidade, apresente qualquer alteração, mantenha a pediatra informada. O diagnóstico precoce e o devido acompanhamento são os principais aliados da pediatra na condução do tratamento de uma hipotética cardiopatia congênita.