Bebê prematuro

Quem me acompanha aqui no site e no Instagram já me viu dizendo que a pediatra é a responsável por acompanhar e buscar assegurar o crescimento e desenvolvimento saudáveis de bebês, crianças e adolescentes – tenham eles de zero a dezenove anos. E se a criança nasce antes do tempo adequado, sem completar 37 semanas de gestação da mãe, os cuidados iniciais serão redobrados já que trataremos de um bebê prematuro.

Qualquer bebê que nasce antes de completar 37 semanas na barriga da mãe é considerado prematuro. Mas mesmo entre eles há casos mais graves que outros.

Os bebês prematuros que nascem com 34 a 37 semanas de gestação são chamados de “prematuros tardios”. Apesar de terem completado um período maior de gestação – o que pode inferir que consequências menos graves de prematuridade sejam desenvolvidas -, tem crescido significativamente o número de casos de prematuros tardios no Brasil. Esse aumento gera muita preocupação em termos de saúde pública.

Transição alimentar

 

Bebês que nascem entre 28 e 34 semanas são chamados de “prematuros intermediários”, e constituem a maior parte dos prematuros do país. Já os bebês que nascem com menos de 28 semanas completas de gestação são chamados de “prematuros extremos”. Estes, infelizmente, correm grande risco de não sobreviver.

 

Bebê prematuro: principais características

Bebês que nasceram com menos de 37 semanas completas de gestação necessitam de cuidados redobrados por uma série de motivos. E o principal é quanto ao desenvolvimento de um dos órgãos mais importantes do nosso corpo: o cérebro.

Como expliquei no texto sobre amamentação, um recém-nascido ainda está formando a sua consciência. Assim, qualquer contato com um elemento externo ajuda no desenvolvimento da sua cognição. Só que a formação motora e cognitiva depende, em grande medida, da robustez do cérebro, esse órgão que armazena a maior parte das informações que acessamos para desenvolver e crescer.

Quem nasce com um cérebro e um aparelho locomotor mais fortes terá mais facilidade em conectar essas duas dimensões do próprio corpo. Todo o sistema músculo-esquelético do bebê reagirá mais naturalmente aos comandos, mesmo inconscientes, enviados pelo cérebro.

Bebês prematuros tem, como principal característica, a dificuldade de respirar. Eles normalmente nascem carentes de surfactante, uma proteína que é produzida nos pulmões e que permite que eles consigam se encher de ar.

Pouco ar no pulmão significa pouco oxigênio circulando no corpo e chegando ao cérebro. E o oxigênio é fundamental para o desenvolvimento de todas as células do nosso corpo, especialmente as nervosas.

Boa parte das células do nosso corpo conseguem se reproduzir e repetir as funções das anteriores. Mas no caso do cérebro, se há morte de boa parte de determinadas áreas do tecido cerebral, há o comprometimento de algumas funções do corpo. Por isso as sequelas cerebrais – paralisia cerebral, deficiência intelectual grave, cegueira, surdez, dificuldades de aprendizagem, transtorno de déficit de atenção – são muito mais comuns em crianças que foram bebês prematuros.

Além das dificuldades de respirar, o bebê prematuro enfrenta outros obstáculos. Não é incomum nascerem com ductus arterioso aberto. Ele é um vaso que transmite o oxigênio da placenta da mãe para a criança. Quando nasce com esse vaso aberto, o bebê prematuro não consegue fazer que seu sangue passe pelos pulmões, o que pode provocar insuficiência cardíaca.

Outra complicação frequente em bebês prematuros é a enterocolite necrotizante. Ela é causada por uma baixa tolerância do intestino do bebê em receber alimentação. Quando ocorre, a enterocolite necrotizante pode gerar distensão abdominal que provoca uma sensível piora no quadro clínico geral do bebê prematuro.

 

Cuidados com o bebê prematuro

Como qualquer recém-nascido, o bebê prematuro demanda cuidados especialmente com a alimentação e o sono. Mas diferente dos outros recém-nascidos, esses cuidados são bem específicos.

Nos textos sobre amamentação e sobre transição alimentar, expliquei que o aleitamento materno deve ser a única forma de alimentação das crianças nos primeiros seis meses de vida. No caso do bebê prematuro, sempre que possível o leite materno deve ser oferecido. Algumas vezes será necessário complementar com fórmulas, alimentação por sonda ou alimentação intravenosa. Isso irá depender do quanto o bebê é prematuro, se tem capacidade de sugar ou não e se precisa de tratamento em terapia intensiva.

Já em relação ao sono, as dificuldades enfrentadas pelos pais devem-se, principalmente, à adaptação do bebê com o ambiente doméstico depois de ter passado um tempo na UTI.

Quando na Unidade de Tratamento Intensiva, o sono do bebê é regido pelas rotinas da unidade. Ele vai acordar – ou ser acordado – na hora de se alimentar, quando houver a necessidade de administrar algum medicamento ou aplicar alguma sonda. Dificilmente o sono dele ocorrerá em intervalos regulares.

Quando for para casa, o bebê estará sem rotina de sono e tendo passado pela experiência de ser acompanhado por vários profissionais. Então é comum o bebê prematuro, ao acordar, não conseguir se acalmar sozinho . Além disso, estamos falando de um indivíduo com o sistema nervoso ainda subdesenvolvido e com experiências cognitivas passadas dentro de um hospital.

O fato de estar acompanhado permanentemente na UTI pode gerar, no bebê prematuro, a necessidade de estar sempre no colo. É comum que ele demande presença constante do pai e da mãe para conseguir se acalmar e, consequentemente, dormir.

As dificuldades para se alimentar também afetam o sono do bebê prematuro. Se ele não estiver conseguindo se nutrir – com dificuldades de sucção e deglutição, por exemplo -, sentirá fome. E com fome, será ainda mais difícil se acalmar e pegar no sono.

O bebê prematuro pode se desenvolver de forma saudável e seguir a vida como a de uma criança que nasceu após o período gestacional completo. Mas para tentar assegurar o desenvolvimento pleno da criança que nasceu prematura, é fundamental o acompanhamento rigoroso da pediatra. Ela estará atenta a todos os cuidados extras que o bebê precisa ter para que ele vença seus obstáculos e mostre para todos algo que nasce com todo prematuro: a alma de guerreiro.