Morte súbita do lactente
Quem me segue no Instagram talvez tenha visto que há aproximadamente um mês eu abri uma caixinha de perguntas. Recebi muitas dúvidas sobre a morte súbita do lactente. Portanto, resolvi trazer esse assunto aqui para o site, para podermos explorá-lo com mais profundidade.
O tema assusta muitas mães e pais, já que não há o que fazer quando acontece. Sim, recém-nascidos morrem subitamente, sem causa aparente. O fenômeno acontece com crianças de até um ano de idade, sendo mais comum em bebês entre dois e quatro meses de vida.
Mas para acalmar mães e pais, vamos aos dados – eles são excelentes para descrever a realidade. A quantidade de óbitos causada pela síndrome da morte súbita do lactente é bem baixa. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o Brasil mostram que, em 2020, 157 bebês morreram por causa da síndrome. Em outras palavras, é uma condição rara.
Entretanto, preocupa. Portanto, vamos explicar a morte súbita do lactente e detalhar o que pode ser feito para reduzir bastante os riscos.
Causas e fatores de risco
O que normalmente conhecemos como morte súbita do lactente ou morte súbita do recém-nascido é uma síndrome. Quem leu o meu texto sobre síndrome metabólica na infância talvez se lembre que uma síndrome é formada por um um conjunto de fatores, nem sempre da mesma causa, que definem uma condição do paciente.
A síndrome da morte súbita do lactente, conhecida pela sigla SMSL, é uma condição de causas pouco conhecidas. A maior probabilidade é que ela seja provocada por alterações dos mecanismos controladores das funções neurais, cardíacas e respiratórias do bebê. Ele não consegue acordar em situações nas quais um bebê em condições normais acordaria: excesso de calor do corpo ou baixa oxigenação do sangue.
Atualmente a principal hipótese aceita pela Medicina como causa da morte súbita do lactente é o baixo desenvolvimento do tronco cerebral do bebê, a área do sistema nervoso responsável pelas funções cardíacas e respiratórias. Essa imaturidade do tronco cerebral é muito mais comum em bebês prematuros, o que faz com que a prematuridade seja um dos principais fatores de risco da morte súbita do lactente.
Contudo, apesar do fator fisiológico, os principais fatores de risco da SMSL são controláveis. O local, posição e as condições nas quais o bebê dorme, além do acompanhamento pré-natal bem feito, são geradores de risco para um bebê que sofre de síndrome da morte súbita do lactente.
Síndrome da morte súbita do lactente: prevenção
Em junho de 2022, a Academia Americana de Pediatria atualizou as recomendações para sono seguro em menores de um ano. Essas recomendações foram assumidas pelo Departamento de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria.
As recomendações mais importantes servem para prevenir os principais fatores de risco da morte súbita do lactente: o local, a posição e as condições nas quais o bebê dorme. São elas:
- Dormir de barriga para cima → nem de lado, muito menos virado para baixo. Bebês, até completar um ano, devem ser colocados para dormir de barriga para cima, para que sua traqueia fique acima do esôfago. Isso dificulta que vômito vindo do estômago chegue à traqueia.
- Bebês devem dormir no berço com superfície rígida e não inclinada → colchões de berço são adaptados para bebês, que não devem dormir na cama com os pais. Nos berços, os colchões devem ser completamente adaptados, sem sobras ou espaços vazios. Também não deve existir nenhuma inclinação, como travesseiros, almofadas ou rolinhos.
- Atenção à temperatura → recém-nascidos com SMSL tem dificuldade de acordar por causa do excesso de calor. Os bebês nunca devem usar cobertores ou mantas. Até completar um ano, se o tempo estiver muito frio, prefira cobrir sua filha ou filho com roupas mais quentinhas, mas sempre tomando cuidado com o excesso.
Além das recomendações para o sono, há diversos outros cuidados a serem observados. Bebês não devem estar em ambientes com fumantes, o desejável é que nem estejam no mesmo domicílio. Recomenda-se que os berços dos recém-nascidos estejam no quarto dos pais até eles completarem, pelo menos, seis meses de vida. Além disso, o calendário de vacinas e o período de amamentação devem ser rigorosamente cumpridos, para que o sistema imunológico do bebê desenvolva-se devidamente e nenhum agente etiológico piore a condição de uma criança com SMSL.
O acompanhamento das consultas de puericultura é muito importante para prevenir a morte súbita do lactente, especialmente nos casos de bebês prematuros.
Se você perceber qualquer alteração no sono da sua filha ou filho, especialmente se ele tem até quatro meses, relate à pediatra nas consultas de puericultura. As chances de um episódio de morte súbita do lactente podem ser drasticamente reduzidas com medidas simples de serem aplicadas.