Vacinas

Aqui no consultório, nas consultas de puericultura, o tópico “vacinas” sempre é uma das prioridades. E nesses tempos de pandemia global, quando o tema virou assunto para todo mundo, nunca é demais lembrar da importância da vacinação. Portanto, no texto de hoje, vou falar um pouco sobre as vacinas para bebês, crianças e adolescentes.

Antes de detalhar as vacinas dos pequenos cabe destacar a importância da vacinação para qualquer ser humano. Vacinas estão entre as principais armas que sistemas de saúde possuem para combater doenças – especialmente as mais infecciosas.

A história das vacinas data do século XIX quando o cientista Louis Pasteur (1822-1895), em experimentos com ovelhas, cabras e bovinos, identificou que o mesmo patógeno que provoca uma doença pode curá-la. Ao administrar formas debilitadas ou atenuadas da bactéria causadora do carbúnculo nos animais estudados, Pasteur percebeu que os animais não desenvolveram a doença. Numa segunda fase, administrando formas bem mortíferas da bactéria, os animais não tiveram danos graves.

Transição alimentar

 

De meados dos século XIX até os anos 1980, a metodologia para o desenvolvimento de vacinas praticamente não se alterou. Versões atenuadas dos patógenos – especialmente vírus – eram desenvolvidas em células externas ao corpo humano e, em seguida, testadas nos seres humanos. Nos anos 1980 foi concebida, nos Estados Unidos, a técnica do DNA recombinante. Foi por meio dela que pela primeira vez puderam ser desenvolvidas vacinas contra algumas doenças fatais, como a hepatite B.

Nos últimos 40 anos a tecnologia de desenvolvimento de vacinas avançou ainda mais. Atualmente, além da metodologia tradicional e da de DNA recombinante, laboratórios, universidades e centros de pesquisa de todo mundo desenvolvem vacinas usando o RNA mensageiro ou DNA e vetores de vírus que transmitem instruções às células sobre como produzir proteínas virais. Essas tecnologias geram vacinas que não contém proteínas virais, reduzindo as chances de uma pessoa vacinada desenvolver a doença.

 

Como se desenvolve o sistema imunológico dos pequenos

Se são importantes para adultos, que já possuem um sistema imunológico bem desenvolvido, as vacinas são fundamentais para bebês, crianças e adolescentes. A maior parte das vacinas que vão proteger a criança (o futuro adulto) contra doenças graves são administradas até os primeiros 15 meses de vida, com doses de reforço acontecendo até os 5 anos de idade.

O sistema imunológico da criança começa a se desenvolver ainda na barriga da mãe. Quanto maior o período gestacional, mais desenvolvido é o sistema imunológico do bebê ao nascer. É por isso que tomamos tanto cuidado com os prematuros. Um prematuro extremo, que nasceu de uma gestação de menos de 28 semanas, tem um risco de 5 a 10 vezes mais alto de se infectar que um bebê que completou todo o período gestacional.

Nas primeiras semanas de vida, o sistema imunológico do bebê é altamente dependente do leite materno, como destaquei no texto sobre amamentação. Com o avançar das semanas, os anticorpos ingeridos nas mamadas vão proliferando no corpo do bebê e atingindo todos os seus órgãos.

Com aproximadamente 5 meses de vida, o sistema imunológico do bebê começa a ficar um pouquinho mais robusto – já são encontrados linfócitos T em grande quantidade. Essa evolução segue acelerada até os primeiros 12 meses da criança, período que há grande aumento na produção de citocinas – proteínas que, ao recrutar células do sistema imunológico, ampliam a resposta imune do bebê.

Apesar de avançar com velocidade, o sistema imunológico da criança é considerado imaturo até os 4 anos. Até essa idade a criança já deve ter tomado diversas vacinas, mas ainda assim ela mantém um sistema imunológico frágil, suscetível a infecções. Conforme vai chegando na adolescência, a criança vai fortalecendo seu sistema imunológico desde que tome as vacinas recomendadas para sua faixa etária.

 

Vacinas: quais são as mais importantes e quando elas devem ser administradas em bebês, crianças e adolescentes

Como já falei neste texto, a maior parte das vacinas que vão proteger a criança são administradas até os primeiros 15 meses de vida, com doses de reforço acontecendo até os 5 anos de idade. Isso ocorre porque, entre o terceiro e o quinto mês de vida do bebê, os anticorpos presentes no leite da mãe já não são suficientes para proteger as crianças de um grande número de doenças às quais elas podem estar expostas. Assim, o próprio bebê precisa desenvolver seus anticorpos – e vacinas são armas fundamentais para isso.

Até os primeiros 9 meses de vida, o bebê deve ter tomado 9 vacinas, sendo que a BCG e a hepatite B podem ser aplicadas nas primeiras horas de vida 😱! No quadro abaixo eu detalho as vacinas preconizadas pelo Ministério da Saúde para a infância e a adolescência.

VACINAPROTEGE CONTRA…IDADE DA 1a. DOSEQUANTIDADE DE DOSESIDADE DA(S) OUTRA(S) DOSE(S)DISPONÍVEL NO SUS?
Hepatite BHepatite BPrimeiras 12 horas de vida mas, necessariamente, no 1o. dia de vida.32a. dose: 1 mês após a 1a.
3a. dose: 6 meses após a 1a.
Sim
BCGTuberculoseAté 1 mês1Sim
Penta/DTPDifteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pela bactéria Haemophilus influenzae2 meses52a. dose: 4 meses
3a. dose: 6 meses
1a. dose de reforço: 15 meses
2a. dose de reforço: 4 anos
Sim
VIP/VOPPoliomelite2 meses52a. dose: 4 meses
3a. dose: 6 meses
1a. dose de reforço: 15 meses
2a. dose de reforço: 4 anos
Sim
Pneumocócica 10-valenteProtege contra 10 subtipos da bactéria pneumococo2 meses32a. dose: 4 meses
1a. dose de reforço: 1 ano
Sim
RotavírusInfecção gastrointestinal2 meses22a. dose: 4 mesesSim
Meningocócica CMeningite C3 meses32a. dose: 5 meses
1a. dose de reforço: 1 ano
Sim
InfluenzaGripe6 meses6Anualmente, sempre contando 1 ano da última doseSim
Febre amarelaFebre amarela9 meses1Sim
Tríplice viralSarampo, rubéola e caxumba1 ano31a. dose de reforço: 15 meses
2a. dose de reforço: 4 anos
Sim
Tetra viralSarampo, rubéola, caxumba e catapora1 ano e 3 meses1Pode ser aplicada em substituição à 1a. dose de reforço da Tríplice ViralNão
Hepatite AHepatite A1 ano e 3 meses1Sim
HPVHPV9 anos para as meninas, 12 para os meninos1Sim

 

Importante destacar que o Sistema Único de Saúde, o SUS, oferece gratuitamente a maioria das vacinas necessárias. É fundamental que os pais fiquem atentos ao Plano Nacional de Vacinação; nele há o calendário de vacinação das crianças. Fique de olho no calendário de vacinação, identifique o posto de saúde mais próximo da sua casa, mantenha sempre guardado o cartão de vacinas e não perca as datas de vacinação!

Além das vacinas oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda as vacinas pneumococo 13, meningococo B e meningococo ACWY a partir dos 2 meses de vida.

E nunca é demais reforçar quão importantes são as vacinas para o desenvolvimento do sistema imunológico, especialmente de bebês, crianças e adolescentes. Vacinas salvam vidas, muitas vidas! Pais e mães, não deixem seus filhos expostos: protejam-os com vacinas!