Disquesia do lactente

É inegável que os primeiros meses de vida de um bebê são os mais desafiadores para seus cuidadores. Dado que um recém-nascido ainda tem poucas habilidades expressivas, é muito difícil identificar, a partir das suas manifestações, o que ele está sentindo e quais as possíveis causas. Quando o bebê chora, se contorce e apresenta dificuldade para evacuar, pode ser um caso de disquesia do lactente.

Assim como as cólicas, a disquesia do lactente está entre as queixas mais comuns de mamães e papais, principalmente os de primeira viagem. E assim como as cólicas, a disquesia é uma condição muito normal, pela qual vários bebês  vão passar.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), distúrbios gastrointestinais funcionais – que são os distúrbios da interação cérebro-intestinoocorrem em 15 a 30% dos bebês com menos de seis meses. A disquesia do lactente provavelmente é a mais comum. Vamos, portanto, entender porque.

Transição alimentar

 

Causas e sintomas

Para entender melhor o que é a disquesia do lactente, vamos refletir um pouquinho sobre o ato de evacuar mesmo para nós, adultos. O ato envolve um sinal do intestino, uma tomada de consciência do cérebro da necessidade de ir ao banheiro e um esforço – grande ou pequeno – dos músculos da pelve.

Normalmente nós nem pensamos nisso porque essa ação, tão natural, já está no nosso inconsciente. Mas nem sempre foi assim… Bebês não nascem com uma capacidade plena de, inconscientemente, conectar o cérebro com as demais funções do corpo. Essa habilidade, junto com todo o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, vai evoluindo dia a dia.

Portanto, nem todo bebê desenvolve, rapidamente, a capacidade de coordenar a vontade de evacuar com o relaxamento da musculatura pélvica, condição necessária para a abertura do esfíncter anal. E os recém-nascidos e bebês que demoram um pouco mais a desenvolver essa coordenação podem manifestar os sintomas comuns da disquesia do lactente, que são: 

  • Fazer muita força sem conseguir defecar
  • Gemer, chorar, se contorcer e apresentar vermelhidão antes de fazer cocô
  • Passar até sete dias sem conseguir evacuar

Tanto bebês em amamentação exclusiva quanto os que fazem uso de fórmulas infantis podem apresentar a disquesia do lactente, uma vez que a consistência das fezes interfere muito pouco na capacidade do recém-nascido de coordenar vontade de evacuar e relaxamento dos músculos da pelve.

 

Disquesia do lactente: diagnóstico e tratamento

A disquesia apresenta alguns sintomas que também são comuns nas cólicas do lactente. Portanto, no diagnóstico, observamos alguns sinais mais específicos.

Um dos mais evidentes que diferenciam a cólica da disquesia é o fim dos outros sintomas assim que o bebê evacua. Portanto se o bebê chora, geme, se contorce mas interrompe esses comportamentos assim que consegue evacuar, há aí uma evidência de que pode ser um caso de disquesia.

A interrupção do choro e gemidos é um um sinal relevante a observar; entretanto, ele por si só não permite o devido diagnóstico da disquesia do lactente. Por isso é tão importante respeitar a periodicidade das consultas de puericultura. Ao acompanhar o comportamento e histórico do bebê ao longo dos meses, a pediatra terá mais elementos para fazer um diagnóstico preciso.

Se sua filha ou filho está com um quadro de disquesia do lactente, há algumas ações que podem ser feitas para aliviar o desconforto. Assim como nos episódios de cólicas, a recomendação é acolher e ninar o bebê, tentando-o deixar o mais calmo e confortável possível. Outra sugestão é flexionar as pernas do recém-nascido sobre a barriga, fazendo uma leve pressão, e em seguida fazer uma leve massagem no abdômen, com movimentos circulares. Essas ações podem estimular o intestino, ajudando o bebê a evacuar.

Como já disse aqui no texto, quadros de disquesia independem da alimentação do  bebê, se em amamentação exclusiva ou fazendo o uso de fórmulas infantis. Portanto, alterar a alimentação, inclusive antecipando a transição alimentar, não surtirá nenhum efeito em casos de disquesia do lactente. Sendo assim, não altere a alimentação do bebê, salvo sob orientação da pediatra.

Nunca é demais lembrar que nenhum medicamento deve ser administrado sem consulta prévia à pediatra. E nos casos de disquesia do lactente, medicamentos justificam-se menos ainda, uma vez que a condição não é dada por uma questão unicamente fisiológica e sim de aprendizado da criança.