Alimentos permitidos na transição alimentar

Quem já me viu falar aqui ou no Instagram sobre amamentação – inclusive quando expliquei o colostro, do leite de transição e do leite maduro – já sabe que a amamentação deixa de ser exclusiva quando o bebê completa seis meses. A partir daí, ele começa a experimentar os alimentos. Mas se o bebê já pode comer, é importante saber os alimentos permitidos na transição alimentar.

Por se tratar de um novo momento na vida do bebê, a transição alimentar é uma etapa que gera muitas dúvidas e inseguranças em mamães e papais. Durante todo o processo, três aspectos devem ser observados com mais atenção: a nova rotina alimentar do bebê, os alimentos permitidos e como eles devem ser preparados.

O primeiro alimento permitido e fortemente recomendado na transição alimentar é o próprio leite materno, que terá valor nutricional significativo para crianças de até dois anos de idade. Quando falei sobre a nova rotina alimentar do bebê, destaquei que, na realidade da maioria das mães, o início da transição alimentar se sobrepõe à rotina de amamentação. Isso quer dizer que, mesmo após completar seis meses e até fazer dois anos, o leite pode continuar sendo oferecido ao bebê.

Transição alimentar

 

Fases e alimentos proibidos na transição alimentar

Grosso modo, podemos dividir a transição alimentar em quatro fases:

  • Primeira fase → primeira semana da transição. 
  • Segunda fase → segunda e parte ou a totalidade da terceira semana da transição, a depender da adaptação do bebê.
  • Terceira fase → parte da terceira, a totalidade da quarta semana da transição e todo o oitavo mês de vida do bebê. 
  • Quarta fase → Do nono ao 12º mês de vida da criança.

Iremos falar dos alimentos permitidos na transição alimentar em cada uma de suas fases. Mas há alimentos que são proibidos em todas elas – e a maioria deve ser severamente evitada durante toda a infância.

Contudo, antes de citar os alimentos proibidos e permitidos, vale explicar rapidamente como todos eles são classificados. Minha referência é a classificação NOVA, desenvolvida pela Associação Mundial de Saúde Pública e Nutrição, e utilizada pela Organização de Comida e Agricultura das Nações Unidas e pela Organização Panamericana de Saúde.

De acordo com a NOVA, os alimentos dividem-se em quatro grupos: a) os in natura ou minimamente processados; b) os ingredientes culinários processados; c) os alimentos processados e; d) os alimentos ultraprocessados. Para entender minuciosamente cada uma das categorias, recomendo a leitura do texto Alimentos naturais ou minimamente processados: qual sua importância para nossa saúde e bem-estar?, do portal Casa Pura.

Em toda a fase de transição alimentar, os alimentos ultraprocessados não devem ser consumidos em hipótese alguma! Além disso, eles devem ser severamente evitados em toda a infância – na verdade, devem ser evitados ao longo de toda a vida. Nesse grupo de alimentos estão os refrigerantes, pós para refrescos, achocolatados, salgadinhos de pacote, sorvetes, balas, chocolates e guloseimas em geral, além de diversos outros. Já falei aqui no site e no Instagram sobre o avanço da síndrome metabólica ainda na infância. E essa condição está diretamente associada a uma alimentação infantil ruim.

Além disso, boa parte dos alimentos processados não deve compor a alimentação da criança nas três primeiras fases da transição alimentar. Nesse grupo estão as conservas, castanhas adicionadas de sal ou açúcar, frutas em calda, carnes salgadas (como carne de sol, charque e carne serenada), além dos peixes conservados em água e sal ou óleo.

Por último mas não menos importante: o mel, apesar de ser um alimento do grupo dois e bastante nutritivo, não deve compor a fase de transição alimentar. Crianças podem consumir mel apenas após completar um ano de idade.

 

Alimentos permitidos na transição alimentar: quais podem em cada uma das fases

Na primeira fase da transição alimentar, o bebê deve ser apresentado a uma refeição que pode ser frutas, almoço ou jantar. Comumente iniciamos com frutas que devem ser partidas em pedaços pequenos, de forma que o próprio bebê possa manipulá-los. Uma alternativa é  oferecê-las amassadas com garfo ou raspadas com a colher.

A segunda fase deve ser iniciada quando o bebê já se adaptou à primeira, aceitando bem a primeira refeição e sem apresentar o reflexo de GAG com frequência. O reflexo é uma reação normal do bebê. Semelhante a uma ânsia de vômito, é uma resposta natural de uma criança que está tomando contato com alimentos pela primeira vez.

Se você iniciou a primeira fase da transição alimentar com frutas, na segunda deve ser introduzida uma papinha “de sal” que, contradizendo o nome, não deve ser temperada com sal. A papinha “de sal” deve conter:

  • 1 fonte de carboidrato: arroz, macarrão, tubérculos (batata, batata doce, abóboras) e raízes (mandioca, inhame).
  • 1 fonte de lípides (1 colher de sobremesa): óleos vegetais (soja, milho, girassol, canola) ou azeites de oliva. Preferir o azeite extra virgem cru.
  • 1 leguminosa: feijão, vagem, lentilha, ervilha.
  • 1 fonte de proteínas: carnes de boi ou porco, frango, vísceras, peixe ou ovo.
  • 2 a 3 verduras ou legumes: tomate, cenoura, brócolis, couve-flor, alho poró, couve, espinafre, batata baroa, berinjela, beterraba, pimentão, pepino, etc.

Na terceira fase da transição alimentar, o bebê deve consumir duas porções da papinha “de sal”, em refeições diferentes. Conforme expliquei no texto sobre rotina alimentar do bebê, é importante respeitar os horários de refeição da família. Sendo assim, uma das papinhas pode ser oferecida na hora do almoço e outra no inicinho da noite.

Na quarta fase da transição alimentar, o bebê vai sendo, lenta e progressivamente, apresentado à comida da família. 

Vale lembrar que a introdução de alimentos possivelmente alergizantes não deve ser evitada em toda a transição alimentar. Protelar a introdução de alimentos potencialmente alergênicos, como ovos e peixes, não reduz o risco de alergias mesmo nas crianças que podem potencialmente desenvolvê-las.

É fundamental que o bebê receba os nutrientes que não podem faltar na sua alimentação ao longo da transição alimentar. Já falei sobre esses nutrientes no texto sobre suplementação na alimentação infantil e também recomendo a leitura!

Papais e mamães que mantêm as consultas de puericultura em dia recebem essas e outras instruções no consultório. Portanto, se você está insegura com a inserção de algum alimento na nova rotina alimentar do bebê, entre em contato e agende sua consulta. Irei te orientar adequadamente sobre cada alimento.