Alimentação e desenvolvimento neuropsicomotor
Quem me acompanha aqui no site e no Instagram já deve ter reparado que falo frequentemente de nutrição e de prevenção. Neste texto talvez fique claro porque eu dou tanta importância a esses dois assuntos. Ao tratar de alimentação e desenvolvimento neuropsicomotor, quero mostrar como uma boa alimentação é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança, evitando doenças futuras.
Dentre os diversos períodos da primeira infância, a fase de transição alimentar talvez seja a de maior desenvolvimento neuropsicomotor. Quem leu o texto sobre desenvolvimento motor de bebês viu que, entre o segundo e terceiro mês de vida, o bebê desenvolve uma pega mais firme e já é capaz de segurar objetos leves e macios. Essa capacidade será fundamental na transição alimentar, quando ele experimentará segurar, pela primeira vez, o próprio alimento.
O alimento a ser segurado e ingerido pode ser completamente determinante para a maior evolução cognitiva dessa criança. Um estudo publicado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona, desenvolvido com quase 1.300 crianças de seis países europeus diferentes, mostrou que dietas com alimentos orgânicos são mais ricos em nutrientes para o cérebro, como os ácidos graxos, vitaminas e substâncias antioxidantes. Em outras palavras, a escolha adequada dos alimentos permitidos na transição alimentar, junto do estímulo motor, são aceleradores do desenvolvimento cognitivo do bebê.
Como se dá a evolução motora
A transição alimentar é uma fase que normalmente se inicia após o bebê completar seis meses de vida. Além de já estar preparado para receber alimentos diferentes do leite materno, o segundo semestre de vida do bebê marca uma fase de desenvolvimento físico mais acelerado.
No texto sobre desenvolvimento motor de bebês, expliquei que, a partir dos sete meses, o bebê já consegue mexer mãos e braços com bom nível de controle e facilidade – e essa habilidade, inclusive, que possibilita à criança manipular os primeiros brinquedos. Essa capacidade de controlar os próprios braços e segurar mais firmemente os alimentos é muito importante no início da transição alimentar.
Ao segurar os alimentos com as próprias mãos, o bebê começa a desenvolver percepção sobre suas consistências e texturas. Ao levá-los à boca e tentar mastigá-los, a criança está desenvolvendo sua capacidade de colocar força e controle no movimento mandibular, habilidade que será fundamental para o desenvolvimento da fala.
Além disso, é com aproximadamente seis meses que começa a dentição infantil. Quando os dentes nascem, eles precisam ser estimulados. A mastigação é uma atividade que envolve os dentes, a língua e vários outros músculos, além das articulações, ossos e tendões. Todo esse conjunto funciona coordenadamente para que consigamos mastigar. Essa habilidade, que realizamos inconscientemente já na infância, é desenvolvida na transição alimentar.
Alimentação e desenvolvimento neuropsicomotor: a importância da escolha dos alimentos
A fase de amamentação exclusiva encerra-se quando o bebê completa seis meses de vida porque, a partir dessa idade, ele precisa de nutrientes em maior quantidade. Nessa fase, crianças não podem ficar muito tempo sem ingerir uma boa dose de determinados nutrientes.
Ferro, cálcio, zinco, vitaminas C e D, dentre outros nutrientes, devem ser frequentemente ingeridos por crianças. Algum desses nutrientes são ainda mais determinantes para o desenvolvimento neuropsicomotor.
O ferro está na composição da hemoglobina, uma proteína das células vermelhas do sangue que é responsável por transportar oxigênio por todo corpo. Quando uma criança está com deficiência de ferro, o oxigênio circulará em menor quantidade e as células – especialmente as do cérebro, que é um órgão que precisa de muito oxigênio – não cumprirão suas funções normalmente.
Quase tão importante quanto o ferro para o transporte do oxigênio pelo corpo é a vitamina C. Ela atua na absorção do ferro pelas células vermelhas, acelerando a produção da hemoglobina.
As melhores fontes de vitamina C são as frutas cítricas, como a laranja, o limão e a mexerica. Outras boas fontes de vitamina C são kiwi, goiaba, abacaxi, caju, morango e mamão.
Já o ferro pode ser obtido na gema do ovo, em vegetais verde escuros, nas leguminosas – como o feijão – e nas carnes. Além de serem fonte de ferro, elas também nos fornecem ácidos graxos, outro nutriente fundamental da composição da alimentação para o desenvolvimento neuropsicomotor.
Bebês não têm capacidade de sintetizar os ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa devido à imaturidade do seu fígado. E alguns dos ácidos graxos poliinsaturados são os principais componentes da membrana fosfolipídica das células do sistema nervoso central. Quando ingeridos, eles são rapidamente absorvidos no cérebro, favorecendo seu crescimento, funcionalidade e integridade.
Sendo assim, bebês devem ingerir alimentos ricos em ácidos graxos. Estes estão muito presentes nas carnes vermelhas e na de peixes – alimentos que devem estar na transição alimentar.
Nós construímos a base do nosso comportamento alimentar, da nossa relação com os alimentos, ao longo da transição alimentar. E essa relação vai durar até o fim das nossas vidas. Se pararmos para pensar na forma como nos relacionamos atualmente com a comida, entenderemos a importância de começarmos bem essa relação. Portanto, dê muita atenção à fase de transição alimentar da sua filha ou filho. Se bem feita, além de favorecer o desenvolvimento neuropsicomotor, você ajudará a evitar a síndrome metabólica infantil ou outros problemas futuros relacionados ao sobrepeso e obesidade.