Preparo dos alimentos na transição alimentar

Se tem um assunto que estou sempre abordando – seja no consultório, no Instagram ou aqui mesmo no site – é “nutrição”. E quando trato da fase de transição alimentar – que pode ser qualificada, no mínimo, como desafiadora – há três aspectos para os quais sempre chamo atenção: a rotina, os alimentos permitidos e como deve ser o preparo dos alimentos na transição alimentar.

Mamães e papais normalmente se deparam com muitas inseguranças ao longo da transição alimentar. Passada a fase de amamentação exclusiva, que vai do nascimento ao final do sexto mês do bebê, vem a necessidade de apresentar os alimentos às crianças. Com ela, também vem as dúvidas.

Quem leu o texto sobre os alimentos permitidos na transição alimentar, já sabe que, grosso modo, podemos dividir o período da transição alimentar em quatro etapas – que explicaremos novamente ao longo deste texto. Além de definir os alimentos permitidos (e proibidos), as etapas também determinam como deve ser o preparo dos alimentos na transição alimentar.

Transição alimentar

 

Etapas da transição alimentar

Em geral, assim é dividida a fase de transição alimentar

  • Primeira etapa → primeira semana da transição. 
  • Segunda etapa → segunda e parte ou totalidade da terceira semana da transição, a depender da adaptação do bebê.
  • Terceira etapa → o resto do sétimo e todo o oitavo mês de vida do bebê. 
  • Quarta etapa → Do nono ao 12º mês de vida da criança.

O “termômetro” da passagem da primeira para a segunda etapa é a diminuição do reflexo de GAG. Semelhante a uma ânsia de vômito, o reflexo é uma resposta natural de uma criança que está tomando contato com alimentos pela primeira vez. Quando o bebê não apresentar mais o reflexo de GAG com tanta frequência, é sinal que ele já se adaptou à primeira etapa e a segunda pode ser iniciada.

Quanto aos alimentos de cada etapa, nunca é demais lembrar que os ultraprocessados não devem estar presentes em nenhum momento da transição alimentar – na verdade, não devem ser consumidos ao longo de toda a infância.

Além deles, os alimentos processados não devem estar presentes nas três primeiras etapas da transição alimentar e, sempre que possível, também devem ser evitados na quarta. Para tirar as dúvidas sobre quais são os alimentos ultraprocessados e processados, recomendo a leitura do texto sobre os alimentos permitidos na transição alimentar.

 

Preparo dos alimentos na transição alimentar, etapa por etapa

Antes de falarmos especificamente do preparo, é importante reforçar alguns pontos sobre os alimentos. No caso dos vegetais, sempre que possível, prefira os sem agrotóxicos. Além disso, é muito importante ser rigoroso com a higienização. Lave-os com água, detergente e, sempre que necessário, água sanitária ou cloro. Retire a casca das frutas e legumes sempre que possível, uma vez que grande parte dos agrotóxicos ficam concentrados nelas.

Na primeira etapa da transição, o bebê deve ser apresentado a uma refeição, que pode ser frutas, almoço ou jantar. Essa refeição deve ser oferecida de forma pastosa – uma papa ou purê – e, salvo orientação da pediatra, nunca em forma líquida ou liquidificada. Esta tem baixa concentração calórica, o que pode gerar risco nutricional para a criança.

É muito normal que a primeira refeição da transição alimentar seja uma fruta. Se ela estiver muito macia – como, por exemplo, uma banana ou um mamão bem maduros -, ela pode ser oferecida em pedaços. É importante que o próprio bebê manipule a comida. Isso influenciará positivamente o seu desenvolvimento neuropsicomotor.

Caso a fruta não esteja muito madura, uma alternativa é oferecê-la amassadas com garfo ou raspada com a colher.

Na segunda etapa da transição alimentar, deve ser introduzida uma papinha “de sal” que, contradizendo o nome, não deve ser temperada com sal. A papinha “de sal” deve conter:

  • 1 fonte de carboidrato: arroz, macarrão, tubérculos (batata, batata doce, abóboras) e raízes (mandioca, inhame).
  • 1 fonte de lípides (1 colher de sobremesa): óleos vegetais (soja, milho, girassol, canola) ou azeites de oliva. Preferir o azeite extra virgem cru.
  • 1 leguminosa: feijão, vagem, lentilha, ervilha.
  • 1 fonte de proteínas: carnes de boi ou porco, frango, vísceras, peixe ou ovo.
  • 2 a 3 verduras ou legumes: tomate, cenoura, brócolis, couve-flor, alho poró, couve, espinafre, batata baroa, berinjela, beterraba, pimentão, pepino, etc.

Nesta etapa, caso a dentição já tenha minimamente se desenvolvido, é importante que o bebê possa mastigar um pouco. Contudo, os alimentos da papinha  podem estar cortados em pedaços e devem ser intensamente cozidos, para que fiquem bem macios. Essa observação é ainda mais importante se a fonte de carboidrato escolhida for um tubérculo ou uma raiz.

Caso seja escolhida uma carne como fonte de proteína, ela deve compor a papinha de forma desfiada ou moída. Uma boa alternativa é cozinhá-la junto com os legumes.

Se a fonte de proteína escolhida for o ovo, há um cuidado prévio a ser observado. Antes de introduzi-lo na papinha, é fundamental oferecê-lo separadamente. Esse procedimento é importante para testar a tolerância da criança ao alimento, uma vez que ovo está entre os alimentos que mais provocam alergias.

Na terceira etapa da transição alimentar, deve ser introduzida uma segunda papinha “de sal”, com composição e forma de preparo bem semelhante à primeira. Ao longo da terceira etapa, o ponto de cozimento deve ir diminuindo, deixando os alimentos, gradualmente, mais al dente. Com a consistência um pouco mais firme, a mastigação do bebê é estimulada e ele vai se acostumando à textura e firmeza dos alimentos com os quais ele vai se deparar ao longo da vida.

Na quarta etapa da transição alimentar, as refeições do bebê devem, progressivamente, ir se assemelhando à comida da família para que, ao final do primeiro ano de vida, o bebê já esteja bastante integrado à rotina alimentar da casa.

A transição alimentar é uma fase carregada de descobertas para a família. Se você estiver com dúvidas sobre o preparo dos alimentos na transição alimentar, traga-as para as consultas de puericultura. Vamos aproveitar esse momento de acompanhamento para conversar sobre a etapa de descobertas que está para acontecer na vida da sua filha ou filho… e na sua também!