Hepatite infantil

Ainda estamos na pandemia da Covid-19, mas surtos de outras doenças já começaram a chamar a atenção das autoridades de saúde no Brasil e no mundo. Aqui no país, desde o início do ano, estamos acompanhando um aumento intenso nos casos de dengue. Na América do Norte, Europa e Oceania, chegam relatos de infecções de varíola de macaco. E ameaçando as crianças, nos últimos dias, manifestaram-se, em alguns países, surtos de hepatite infantil.

Apesar de ainda não terem sido confirmados casos desse surto de hepatite infantil aqui no Brasil, já há diversas suspeitas sendo investigadas pelos órgãos de saúde. Como a doença pode estar chegando perto, vale ficar atento e seguir acompanhando os informes das secretarias municipais e estaduais de saúde.

As notícias chamaram a minha atenção e serviram de motivação para que, neste texto, eu falasse um pouco dessa patologia, que não é tão incomum assim e que pode trazer complicações bem preocupantes se não for diagnosticada e tratada a tempo.

Transição alimentar

 

Causa, transmissão e sintomas

A hepatite é uma inflamação no fígado. Ela pode ser provocada por diversos fatores:

  • Intoxicação por medicamentos ou outras substâncias
  • Alterações no nosso sistema imunológico
  • Excesso de gordura no fígado
  • Infecção viral

Dada a causa da inflamação, desenvolvem-se diversos tipos de hepatites. As mais comuns são conhecidas pelas letras A, B, C, D e E e são as provocadas por vírus. Até agora não há informações suficientes para explicar a causa desse novo surto mundial de hepatite infantil, mas suspeita-se que sejam casos provocados por infecção de um vírus.

Os tipos de hepatites infantis mais comuns são os A e B. Apesar de ambos serem provocados por vírus, a transmissão se dá de forma diferente.

A principal forma de transmissão do vírus da hepatite A é a fecal-oral. Nesses casos, fragmentos microscópicos de fezes infectadas entram em contato com alguma superfície ou objeto no qual a criança põe a boca. São vários os cenários possíveis nos quais a infecção pode ocorrer.

Imagine que uma criança infectada convive com outras crianças, seja em casa ou na escola. Se ao usar o banheiro ou ter sua fralda trocada por um adulto, tanto a criança quanto o adulto não se higienizarem adequadamente, esses fragmentos microscópicos de fezes contaminadas podem ficar na roupa ou na pele de um dos dois. Se ocorrer o contato da superfície contaminada com outro objeto, como um brinquedo, e ele for levado à boca por outra criança, é grande o risco dela se contaminar.

Já o vírus da hepatite B é transmitido através de fluidos corpóreos e do sangue. Situações muito comuns de contaminação são o parto – quando o recém-nascido é exposto a sangue ou líquido amniótico durante a passagem pelo canal vaginal – ou na amamentação. Também há relatos de contaminação quando a criança entra em contato com o sangue de um indivíduo contaminado, especialmente quando este possui alguma ferida exposta.

O vírus da hepatite B também é transmitido por relações sexuais. Infelizmente há relatos desse tipo de transmissão em crianças. Em adolescentes que já fazem sexo, esse é um tipo de transmissão razoavelmente comum – o que justifica ainda mais o uso de preservativos.

Há sintomas comuns na hepatite A e B. Nos dois casos os pacientes podem apresentar febre e dores de barriga.

A hepatite A traz outros sintomas: cansaço e dor de cabeça. Contudo, por ser mais leve, é bastante comum o paciente com hepatite infantil tipo A ficar assintomático. Boa parte dos casos evoluem favoravelmente, desenvolvendo imunidade na criança e sem comprometer o fígado.

Já a hepatite B é mais grave e apresenta sintomas piores: enjoos, vômitos e icterícia, que é o tom amarelado que a pele, as membranas mucosas e os olhos adquirem. A hepatite B pode evoluir para a fase crônica, que pode gerar um grave comprometimento do fígado, chegando a alterar suas funções.

 

Hepatite infantil: diagnóstico, prevenção e tratamento

O primeiro elemento que a pediatra levará em consideração para diagnosticar a criança é seu histórico de saúde. Por isso as consultas de puericultura são tão importantes.

Em seguida a pediatra analisará os sintomas e investigará a ocorrência de casos recentes de hepatite em membros da família da criança.

Somente exames mais invasivos, como o de sangue, conseguem determinar qual é o tipo de hepatite infantil que está acometendo a criança. A pediatra analisará a necessidade desse tipo de exame após a investigação inicial da situação do paciente.

A melhor forma de prevenir as hepatites A e B é com a vacinação. A vacina contra os vírus está no Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. A primeira dose da vacina contra hepatite B deve ser administrada nas primeiras horas de vida (😱) e a dose única da vacina contra a hepatite A deve ser aplicada quando a criança completar um ano e três meses.

Se a criança ainda não foi vacinada contra a hepatite A, a prevenção contra a transmissão passa, fundamentalmente, pela rigorosa higienização dos alimentos e os utensílios usados no seu preparo. Também é muito importante que as pessoas responsáveis pelo preparo da comida lavem bem as mãos e os braços.

O tratamento contra a hepatite A e casos leves da hepatite B normalmente envolve o uso de medicamentos para aliviar os sintomas, já que a doença costuma evoluir favoravelmente.

Contudo, se a hepatite infantil B entra na fase crônica, crônica, pode ser necessário o tratamento com antivirais e imunomoduladores, para prevenir lesões irreversíveis do fígado. Entretanto, nunca é demais lembrar que nenhum medicamento deve ser administrado sem prévia consulta à pediatra! Se você suspeita que sua filha ou filho esteja com hepatite, entre em contato o mais rápido possível com a pediatra, para que ela faça o devido diagnóstico.