Icterícia neonatal
Para qualquer bebê, o momento do parto é extremamente marcante: o contato com o mundo dispara no corpo do recém-nascido diversos mecanismos fisiológicos e cognitivos para que ele se adapte o mais rápido possível à nova realidade. E há algumas características fisiológicas que demoram um tempo para se adaptar; a icterícia neonatal é o sinal de uma delas.
A icterícia não é, por si só, uma patologia. Ela é um sinal de uma alteração fisiológica que pode ou não estar sendo causada por uma patologia.
A icterícia é bastante comum em recém-nascidos e, na maioria dos casos, ela é só uma sinalização de uma adaptação do corpo do bebê a sua nova realidade: a vida fora do útero, em contato com o mundo. Contudo, seja em crianças e adultos, a icterícia pode sim ser o sinal de um quadro mais grave, que tem como causa alguma patologia.
Icterícia neonatal: o que é e quais são suas causas?
Enquanto sintoma, a icterícia é caracterizada pelo tom amarelado que a pele, as membranas mucosas e os olhos adquirem. Isso se dá pelo excesso, na corrente sanguínea, de bilirrubina: um pigmento amarelo que é produzido na decomposição das hemácias, as células vermelhas do sangue.
Nossas hemácias tem um tempo de vida de aproximadamente 120 dias. Passado esse período elas são destruídas, principalmente no baço e no fígado. A bilirrubina é um dos produtos desse processo de destruição.
Com as hemácias decompostas, a corrente sanguínea se encarrega de levar toda a bilirrubina para o fígado, onde ele é ligado a proteínas e excretado como parte da bile pelo intestino. É assim que o processo acontece num indivíduo saudável e não tão bebê…
Só que com o recém-nascido é um pouco diferente. Como ele ainda está se adaptando ao novo ambiente, à nova realidade, seu fígado ainda está pouco desenvolvido. E esse fígado pode apresentar dificuldades em processar a bilirrubina com as proteínas e os excretar na bile. Assim, o pigmento volta a circular no sangue e, quando em excesso, gera o tom amarelado na pele, membranas mucosas e olhos, tão característico da icterícia.
Diagnóstico e tratamento
A maioria dos casos de icterícia neonatal é conhecida como icterícia fisiológica. São as situações relacionadas à já citada natural imaturidade do fígado do bebê. É um tipo comum e brando de icterícia. Normalmente ele tem início depois das primeiras 24h de vida da criança, alcançando seu pico entre o terceiro e quarto dia de vida. Geralmente esse tipo de icterícia neonatal regride normalmente e após o sétimo dia de vida ela não é mais percebida.
Outro tipo bastante comum de icterícia neonatal é a que está relacionada com o aleitamento materno. Ela é recorrente em recém-nascidos que estão em amamentação exclusiva.
Normalmente esse tipo de icterícia neonatal se manifesta a partir do 11o. dia de nascimento. Seu aparecimento está relacionado ao aumento de hormônios, provenientes do leite materno, que elevam a reabsorção de bilirrubina nos intestinos, jogando-as novamente na corrente sanguínea e dificultando sua total eliminação na bile. A icterícia neonatal do leite materno pode regredir a partir do 15o. dia de vida do bebê ou pode durar meses.
Os casos mais raros de icterícia neonatal estão relacionados a alguma disfunção grave ou alguma patologia. Doenças congênitas como o hipotireoidismo, ou hereditárias como a síndrome de Gilber, trazem danos ao fígado e podem ser os causadores de quadros severos de icterícia neonatal. Infecções adquiridas no útero como a toxoplasmose, ou até mesmo adquiridas no momento do parto, como a do trato urinário, também podem explicar o mau funcionamento do fígado e a consequente icterícia neonatal.
Só a pediatra poderá dar o devido diagnóstico de qual tipo de icterícia está acometendo sua filha ou filho. Se avaliar necessário, ela checará com a equipe médica envolvida no parto, as possíveis explicações para a manifestação da icterícia neonatal.
Mesmo casos mais brandos de icterícia em recém-nascidos demandam tratamento. A bilirrubina, em grande quantidade, é tóxica para o corpinho do bebê. Se em grande concentração no cérebro, ela pode gerar lesões cerebrais.
O tratamento mais comum para a icterícia é a fototerapia: a exposição do bebê a luzes ultravioletas artificiais. Elas possuem ações antiinflamatórias e imunossupressoras, capazes de estimular e inibir a atividade celular. A luz da câmara de fototerapia é absorvida pela bilirrubina. Como ela é um pigmento, deixa de existir e para de provocar a coloração amarela no bebê.
Mesmo os casos mais brandos de icterícia costumam demandar tratamento na câmara fototerápica. Mas somente a pediatra poderá encaminhar o recém-nascido, uma vez que, a partir do diagnóstico, ela saberá a frequência e intensidade adequada do tratamento.