Disruptores endócrinos e sua ação nas crianças

Nas últimas décadas, a vida de boa parte da população do planeta vem se transformando rapidamente. O avanço da ciência e da tecnologia possibilitou à indústria o desenvolvimento de novos produtos que trazem conforto e praticidade para nós. Contudo, muitos deles possuem componentes químicos cujos efeitos ainda não são completamente conhecidos. E alguns desses componentes, como os disruptores endócrinos, podem ter ação negativa nas crianças.

Disruptores – ou desreguladores – endócrinos são substâncias químicas que afetam o sistema endócrino. Eles conseguem interferir na síntese, secreção, transporte, ligação, ação ou eliminação dos hormônios.

Apesar de estarem presentes em vários produtos industrializados, os disruptores endócrinos podem ser encontrados no meio ambiente. A soja, por exemplo, possui fitoestrogênio, um disruptor endócrino muito semelhante ao estrogênio feminino. No organismo de uma menina, o fitoestrogênio pode imitar a ação do estrogênio, desencadeando ações semelhantes ao hormônio humano.

Entretanto, os disruptores endócrinos naturais são eliminados em poucos dias pelo nosso organismo. Já os artificiais, presentes em diversos produtos industrializados, resistem aos processos de excreção e se acumulam no organismo, submetendo animais e humanos a uma contaminação de baixo nível, mas de longa duração. Portanto, é com eles que devemos ficar bem atentos.

Transição alimentar

 

Quais são e como agem

Centenas de substâncias químicas presentes em produtos industrializados podem funcionar como disruptores endócrinos. Os principais que afetam os seres humanos são:

  • Bisfenol-A, o BPA → componente de diversos tipos de resinas e plásticos, como o das garrafas PET. Por estar muito presente na nossa vida, faz com que 95% da população tenha níveis mensuráveis de BPA.
  • Ftalatos → também presente em plásticos, inclusive no das garrafas PET, e em diversos produtos de higiene doméstica e pessoal como detergentes, sabonetes, xampus e esmaltes.
  • Parabenos → Substâncias químicas usadas como conservantes, especialmente em cosméticos e outros produtos de beleza. Os parabenos estão presentes em desodorantes, hidratantes, loções, esmaltes e outros tipos de maquiagem. 
  • Pesticidas → Usados na agricultura para combater insetos e outras pragas, os pesticidas se acumulam nos vegetais e animais, chegando ao corpo humano seja na ingestão de folhas, frutas, verduras e legumes, seja na ingestão de carne de animais que se alimentaram dos vegetais que acumularam os pesticidas. Pesticidas organoclorados, como o DDT, e organofosforados, como o Clorpirifós, já foram identificados como disruptores endócrinos 

 Dentro do nosso corpo, os desreguladores endócrinos agem como os hormônios, ligando-se aos receptores das células. Contudo, como não são naturalmente produzidos pelo corpo, eles interferem no sistema endócrino. Disruptores endócrinos que imitam os hormônios sexuais, o estrogênio e a testosterona, podem interferir na regulação, crescimento e desenvolvimento do corpo, no metabolismo, nas funções reprodutivas e, inclusive, no comportamento da criança. Em outras palavras, os disruptores endócrinos podem agir nas crianças desenvolvendo puberdade precoce.

Disruptores endócrinos e sua ação nas crianças: cuidados a serem observados

Quem acompanha meu site há mais tempo sabe que eu sempre chamo muita atenção para nutrição infantil. A existência dos disruptores endócrinos e sua ação nas crianças é mais uma motivação para a adoção de uma alimentação saudável. 

Ao longo de boa parte da transição alimentar, os alimentos permitidos são os in natura, minimamente processados e os ingredientes culinários processados, de acordo com a classificação NOVA. Se você ficar em dúvida sobre quais são esses alimentos, acesse o texto “alimentos permitidos na transição alimentar”.

Sempre que possível, prefira alimentos orgânicos. Eles provêm de sementes que não foram geneticamente modificadas e, no seu cultivo, não foram utilizados agrotóxicos ou pesticidas.

Conforme a criança vai crescendo, é fundamental que bons hábitos alimentares sejam estimulados pelos pais. Uma boa alimentação, além de evitar o consumo dos disruptores endócrinos e sua ação nas crianças, reduz as chances do desenvolvimento da síndrome metabólica na infância.

Problemas relacionados à obesidade, inclusive, são uma das principais consequências da ação dos disruptores endócrinos. Estudos demonstraram que eles aumentam a resistência insulínica, um dos fatores chaves para o desenvolvimento da síndrome metabólica. Além disso, os disruptores endócrinos também podem agir:

  • Aumentando o número ou o tamanho dos adipócitos
  • Alterando os hormônios que regulam o apetite e a saciedade
  • Modificando a taxa basal do metabolismo de gorduras

Para além das preocupações com a alimentação, outros cuidados devem ser observados com os produtos de higiene e cuidado pessoal utilizados com os bebês e crianças. Sabonetes, xampus e cremes hidratantes podem conter disruptores endócrinos ou podem estar em embalagens que os contém. Portanto, sempre que possível, procure produtos naturais para a higiene do bebê. Se possível, tente escolher produtos cuja embalagem venha com o selo BPAFree.

Se você ficar com alguma dúvida sobre quais produtos industrializados podem ser usados no seu bebê ou criança, traga-as para as consultas de puericultura. Conversaremos sobre a melhor forma de evitar alimentos e outros produtos que possuem disruptores endócrinos na sua composição.