Microplásticos e seus impactos na saúde infantil

Talvez vocês já tenham reparado que, em vários textos, já chamei a atenção para os impactos que a destruição do meio ambiente traz para a saúde de crianças e adolescentes. A poluição do ar agrava patologias de vias aéreas superiores ou inferiores, a destruição da camada de ozônio aumenta os riscos de doenças de pele… E o excesso de plástico no planeta tem gerado um tipo de poluente, os microplásticos, que podem provocar condições sérias de saúde para adultos e crianças.

É inegável que o plástico é um material onipresente no nosso dia a dia. Ele está em uma infinidade de objetos e materiais que utilizamos. Muitas vezes ele está invisível para nós, mas sempre presente: em peças internas de aparelhos eletrônicos, na composição de substâncias usadas para diversos tipos de reparos (como a massa plástica) e até nas roupas. Basta lembrar que o poliéster é um tipo de fibra plástica.

Há muito tempo se sabe que o plástico não é biodegradável e que seu tempo de decomposição na natureza ultrapassa os 400 anos. Considerando que o plástico é uma invenção da segunda metade do século XIX, não é exagero afirmar que partes dos primeiros plásticos produzidos na história ainda podem estar por aí.

Só que os primeiros plásticos produzidos ganharam muita companhia ao longo dos últimos 150 anos. Estima-se que, atualmente, são produzidas mais de 400 milhões de toneladas de plástico todos os anos e só pouco mais de 10% disso consegue ser reciclado. Essa informação nos leva a uma pergunta óbvia: para onde vão as mais de 350 milhões de toneladas de plástico que não são recicladas?

Transição alimentar

 

Quais são e como agem

Sim, parte desses plásticos já está no seu corpo e no da sua filha ou filho também. O plástico no ambiente demora mais de 400 anos para se decompor completamente, mas, seja na natureza ou por meio de processos humanos, ele vai se degradando em partes menores. Quando ele chega a um tamanho microscópico, entre 1 e mil micrômetros, que não consegue ser diluído em água, ele é classificado como um microplástico. Nessas dimensões, ele consegue estar em efetivamente qualquer lugar.

E é em qualquer lugar mesmo! Estudos recentes detectaram quantidades significativas de microplásticos no sangue, fezes, vísceras, urina e até em… fetos humanos. E não era de se espantar: em dimensões tão pequenas, os microplásticos podem ser facilmente inalados ou ingeridos; mas também já há casos documentados de contaminação cutânea.

Os plásticos que normalmente são encontradas em dimensões microscópicas no corpo humano são: 

  • Poliéster → importante componente da indústria têxtil, é facilmente encontrado em tecidos diversos, principalmente na confecção de roupas esportivas. Também é encontrado em garrafas
  • Polipropileno → um dos plásticos mais utilizados na indústria de embalagens, o polipropileno é amplamente encontrado em sacos, utensílios descartáveis (copos, talheres), além de também estar muito presente na indústria automotiva e de equipamentos médicos
  • PVC → o policloreto de vinila, famoso pela sua sigla (PVC) é extremamente difundido na construção civil, sendo o componente de tubos e conexões hidráulicas e elétricas. Também é facilmente encontrado em móveis e em placas publicitárias
  • Poliestireno → famoso pelo seu nome popular, isopor, o poliestireno é muito encontrado em brinquedos, artigos de papelaria e em diversos tipos de recipientes normalmente utilizados para guardar alimentos
  • Teflon → o politetrafluoretileno (PTFE), popularmente conhecido como teflon, é um tipo de plástico bastante comum em panelas e outros utensílios de cozinha, uma vez que ele tem capacidade antiaderente e resiste a altas temperaturas
  • Nylon → outro importante componente da indústria têxtil, o nylon está em vários tecidos. Além de roupas, o nylon é bastante comum em itens de higiene pessoal, como escovas de dentes e de cabelos
  • Polietileno → plástico de baixo custo de produção, o polietileno é um dos preferidos na fabricação de brinquedos. Também é facilmente encontrado em garrafas e sacolas. A versão de polietileno tereftalato é muito conhecida pela sigla PET, material vastamente usado em garrafas de bebidas.
  • Resina Estireno Acrilonitrila → de característica transparente, a Resina Estireno Acrilonitrila está muito presente nos potes que usamos para armazenar alimentos. Também é muito encontrado em equipamentos médicos.
  • Poli n-butilmetacrilato → plástico com aplicações industriais, é muito encontrado na construção civil e indústria automotiva. Também é bastante usado na produção de lentes diversas, dada sua transparência e capacidade de moldagem 

 

Microplásticos em ação nas crianças: quais cuidados tomar

A contaminação por microplásticos é um risco à criança ainda no período de gestação. Fragmentos de microplásticos já foram detectadas em placentas, tanto do lado fetal quanto do lado materno e na membrana corioamniótica.

Os efeitos negativos dos microplásticos no organismo de crianças têm sido objeto de muitos estudos. Atualmente aprofundam-se a investigação de evidências que apontam para o desenvolvimento ou evolução de alergias alimentares, uma vez que os microplásticos de tamanho nanométrico podem ser internalizados pelas células, alterando a biologia das que atuam na permeabilidade intestinal. Essa alteração geraria um ambiente inflamatório que favorece a sensibilização a alergias alimentares.

Outra preocupação é em relação aos disruptores endócrinos e sua ação nas crianças. O Bisfenol-A e os Ftalatos, dois dos principais desreguladores endócrinos, são componentes dos plásticos – especialmente dos polietilenos.

Para tentar reduzir a contaminação por microplásticos, as recomendações são as mesmas para proteger as crianças dos disruptores endócrinos: sempre que possível, prefira alimentos orgânicos e estimulem bons hábitos alimentares.

Cuidados também podem ser observados com os produtos de higiene e cuidado pessoal utilizados com os bebês e crianças. Sempre que possível, procure produtos naturais para a higiene do bebê. Se possível, tente escolher produtos cuja embalagem venha com o selo BPA Free.

Se você ficar com alguma dúvida sobre quais produtos industrializados podem ser usados no seu bebê ou criança, procure a pediatra e não falte às consultas de puericultura. Conversaremos sobre a melhor forma de tentar proteger sua filha ou filho desse material tão presente nas nossas vidas.