Gastroenterite infantil

O tema “alimentação” é bem recorrente nos consultórios pediátricos e no meu não é diferente. O assunto é tão presente que vocês já me viram falando dele algumas vezes aqui no site: no texto sobre transição alimentar, sobre amamentação e em alguns outros. Hoje vou falar de uma patologia que normalmente é provocada por via oral, algumas vezes pela ingestão de algum alimento: a gastroenterite infantil.

Como boa parte da infância é de fase oral, o que a criança ingere é sempre uma preocupação. E como destaquei no texto sobre transição alimentar, a alimentação de uma criança sofre uma grande alteração com o passar do tempo, especialmente no início da sua vida.

Cuidados com higienização, armazenamento e preparo dos alimentos nunca são demais. Mas por mais rigorosos que sejamos, não há garantia que nenhum microrganismo não esteja presente em um alimento ou utensílio. E se a contaminação acontecer, uma das patologias mais comuns de manifestar nas crianças é a gastroenterite infantil.

Transição alimentar

 

Causas e transmissão e sintomas

Gastroenterites são inflamações no trato digestivo. Normalmente elas são provocadas pela infecção de um vírus, uma bactéria ou algum tipo de parasita. E as gastroenterites infantis são o distúrbio digestivo mais comum em crianças. Estima-se que ocorram anualmente entre 3 e 5 bilhões de episódios de gastroenterite infantil em todo o mundo. As ocorrências mais comuns são de crianças com até 5 anos residentes em países em desenvolvimento.

As gastroenterites infantis mais recorrentes são as virais, tendo o rotavírus como o principal agente causador. Mas não é incomum ela também ser provocada pelo norovírus ou astrovírus.

A infecção de uma criança pelo rotavírus normalmente acontece por via oral. São várias as formas possíveis de contaminação – ingestão de alimentos contaminados, uso de utensílios contaminados, contato com saliva de um adulto infectado, etc. Mas a forma mais comum de transmissão, em crianças, é a fecal-oral.

Nesses casos, fragmentos microscópicos de fezes infectadas entram em contato com alguma superfície ou objeto no qual a criança põe a boca. São vários os cenários possíveis nos quais a infecção pode ocorrer.

Imagine que uma criança infectada convive com outras crianças, seja em casa ou na escola. Se ao usar o banheiro ou ter sua fralda trocada por um adulto, tanto a criança quanto o adulto não se higienizarem adequadamente, esses fragmentos microscópicos de fezes contaminadas podem ficar na roupa ou na pele de um dos dois. Se ocorrer o contato da superfície contaminada com outro objeto, como um brinquedo, e ele for levado à boca por outra criança, é grande o risco dela se contaminar.

Por isso, tão importante quanto lavar bem os alimentos e os utensílios usados no seu preparo, é a devida higienização das mãos – especialmente após trocar o bebê.

A gastroenterite infantil pode provocar vômitos, diarréia, cólicas abdominais, falta de apetite e febre. Crianças com gastroenterite infantil aguda podem sofrer um acelerado processo de desidratação, já que perdem bastante líquido nos vômitos e na diarréia. Se os casos não forem devidamente tratados, podem gerar quadros que exigem internação da criança.

 

Gastroenterite infantil: diagnóstico, prevenção e tratamento

O primeiro elemento que a pediatra levará em consideração para diagnosticar a criança é seu histórico de saúde. Por isso as consultas de puericultura são tão importantes.

Em seguida a pediatra analisará os sintomas e alguns outros sinais: se a moleira ou os olhos da criança estão afundados, se há lágrimas quando o bebê chora, se a boca está seca e o volume de urina está baixo…

A ocorrência de casos recentes de gastroenterite em membros da família da criança também é um importante indicativo da infecção. Se mesmo assim os sinais não forem conclusivos, a pediatra pode solicitar exames.

A melhor forma de prevenir a gastroenterite infantil é com a vacinação. A vacina contra o rotavírus está no Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde e sua primeira dose deve ser administrada em bebês de dois meses.

Outra prática fundamental, que já destacamos algumas vezes, é o rigor na higienização e armazenamento de alimentos, os cuidados na limpeza de utensílios de cozinha, a adequada higienização de mãos e braços dos responsáveis pelo preparo da comida e pela limpeza dos bebês.

Crianças com gastroenterite, especialmente os casos mais agudos, devem estar em absoluto repouso e reidratar-se frequentemente com água e algum outro líquido que a pediatra indicar. Nenhum medicamento deve ser administrado sem a orientação da pediatra.

Quando os vômitos e as diarreias estiverem muito frequentes, a pediatra pode recomendar algum medicamento para reduzir os sintomas.

Antibióticos somente são considerados quando infecções acontecem por alguns tipos de bactérias – que são casos mais raros. Nessas situações, a pediatra fará um diagnóstico mais pormenorizado antes de receitar o antibiótico.