Fimose

Quem me acompanha aqui no site e no Instagram talvez tenha se acostumado a me ver falar sobre bebês e crianças. E sim, a maioria dos pacientes que chegam aqui no consultório estão nessa fase da vida. Mas é válido lembrar que na pediatria atendemos pacientes dos 0 aos 19 anos, inclusive em consultas e puericultura. E quando estão em idade mais avançada, os meninos talvez se deparem com uma situação que costuma causar um certo constrangimento e um bocado de medo: o risco da cirurgia de fimose.

Para quem nunca ouviu falar, a fimose é a condição, provocada pelo excesso de pele que recobre o pênis, que impede que a glande seja completamente exposta. Ela é uma condição super comum em bebês e costuma desaparecer com o tempo.

Mas nos casos que não desaparece até o fim da adolescência, a fimose pode provocar problemas. Para evitá-los, em raros casos pode ser necessário que o adolescente passe pela cirurgia de fimose. Ela é um procedimento simples, rápido e acessível; tanto que pode ser feita gratuitamente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

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Fimose: entendendo melhor sua formação e função

O sinal que melhor caracteriza a fimose é a não exposição total da glande pela incapacidade da retração completa do excesso de pele. Este, diga-se de passagem, é conhecido como prepúcio.

Essa incapacidade de retração do prepúcio é comum em crianças pequenas e vai desaparecendo naturalmente. Em torno de 20% dos bebês com seis meses de idade já apresentam o prepúcio retrátil. Esse percentual aumenta para 50% em crianças com até três anos e chega aos 99% dos adolescentes até 17 anos.

O excesso de pele que recobre o pênis existe para protegê-lo. A formação do prepúcio começa na sexta semana de gestação, ainda em forma de um anel de epiderme. Ele cresce até o extremo da glande nas 10 semanas seguintes. Aproximadamente 8 semanas depois, na 24ª semana de gestação, começa a individualização do prepúcio da glande. Essa individualização seguirá até o nascimento do bebê.

A pele da glande é mais sensível que a de todo o resto do pênis. Ela tem mais terminações nervosas para que o homem, na fase adulta, tenha sua ereção facilitada com a sensação gerada pelos estímulos provocados pelo contato com a glande. Portanto, para que ela fique protegida de qualquer tipo de contato, desenvolve-se o prepúcio ainda na fase fetal.

 

Tipos e tratamento

A bastante comum incapacidade de expor completamente a glande nos primeiros anos de vida é conhecida como fimose fisiológica. Por ser uma considerada uma situação normal e transitória, a recomendação é que a resolução da condição se dê espontaneamente, ou seja, aguardando o desenvolvimento natural do menino.

Entretanto, se a criança não vai desenvolvendo a capacidade de retração completa do prepúcio, pode se caracterizar a fimose patológica. E para ela há vários tratamentos conservadores que geram ótimos resultados.

Para meninos com mais de cinco anos e que ainda não possuem quase nenhuma capacidade de exposição da glande, podem ser feitos exercícios leves de retração do prepúcio, sem forçar demais para evitar provocar dor. Os exercícios tendem a ir soltando, aos poucos, o excesso de pele.

Para crianças um pouco mais velhas, podem ser usadas pomadas à base de corticóides. Suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas ajudam a deixar a pele mais flexível, permitindo que o prepúcio deslize mais facilmente sobre a glande.

Mas nunca é demais lembrar que nenhum dos tratamentos conservadores deve ser aplicado sem antes procurar a pediatra. Caso seu filho esteja com dificuldade de fazer a retração do prepúcio, entre em contato para buscar orientação.

A cirurgia de fimose é necessária apenas em raros casos e só deve ser considerada quando os tratamentos conservadores não surtirem efeito. Nela podem ser feitos pequenos cortes na pele, permitindo a retração do prepúcio, ou a remoção completa do excesso de pele. O procedimento a ser adotado passa pela análise do caso do paciente.

Por se tratar de um assunto delicado e que pode se manifestar numa fase complexa, a adolescência, a conversa sobre a fimose vira um tabu. Para ajudar no diagnóstico precoce da fimose patológica, o melhor exercício é a criança ou adolescente conversar com as pessoas do seu ciclo de confiança. Portanto mamães e, principalmente, papais: conversem com seus filhos sobre o próprio corpo, criem um ambiente de diálogo seguro e construam espaços para que vocês possam ajudá-los a observar possíveis problemas. Se a identificação da fimose patológica for feita rapidamente, há mais chances dos tratamentos conservadores gerarem os resultados necessários.