Cólicas do lactente

Quando escrevi sobre amamentação, reforcei que o leite materno deve ser preferencialmente a única forma de alimentação das crianças nos primeiros seis meses de vida. Nessa fase o bebê é classificado como lactente, ou seja, sua fonte nutritiva principal é o leite. Mas essa é também a fase que o bebê desenvolve as cólicas do lactente.

É muito comum que bebês, especialmente nos primeiros três meses de vida, apresentem cólicas. Também por isso é importante já fazer um esclarecimento: as cólicas do lactente não estão diretamente relacionadas a qualquer distúrbio do trato gastrointestinal. Apesar de normalmente associarmos o termo “cólica” a uma dor abdominal aguda, nos casos de cólicas dos lactentes, elas geram outros “ais”. E normalmente eles são bem altos e duram um bom tempo…

O choro provocado pelas cólicas do lactente costumam colocar mães e pais em desespero e torna-se um dos principais motivadores de visitas ao consultório da pediatra. Então, neste texto, eu vou tentar acalmar mães e pais para que eles possam acalmar seus filhos, quando eles forem acometidos pelas cólicas.

Causas e sintomas

Não há na literatura médica nenhum estudo conclusivo sobre as exatas causas das cólicas do lactente. Há muitos estudos que defendem que as causas sejam gastrointestinais, enquanto vários outros apontam causas de outras ordens, especialmente associadas ao desenvolvimento neurológico do bebê.

Muitas pesquisas defendem que as causas das cólicas do lactente são gastrointestinais. Há estudos que apontam que, em bebês que sofrem mais com as cólicas, há produção aumentada de motilina, uma proteína que provoca a peristalse intestinal. Outros trabalhos atribuem as cólicas do lactente a uma má absorção transitória da lactose. E há pesquisas que alegam que as cólicas estão mais presentes em bebês que, mais precocemente, deixam de se alimentar exclusivamente com o leite da mãe.

As pesquisas que alegam outros fatores como causadores das cólicas do lactente defendem que elas são a manifestação de um sistema nervoso central imaturo, que não consegue gerar outra reação de desagrado senão o choro. Há estudos que argumentam que as cólicas do lactente estão associadas a enxaquecas e muitos trabalhos defendem que as cólicas podem ser reações ao ambiente familiar. Vários autores alegam que o temperamento da criança, a ansiedade dos pais, depressão pós-parto, problemas na dinâmica familiar e a possibilidade de sequelas emocionais podem ser os causadores das cólicas do lactente.

A principal manifestação de cólica pelo lactente é o choro inconsolável por pelo menos 3 horas e sem causa aparente. Em outras palavras, caso o bebê esteja saudável, saciado e ainda chora, há boas chances de ser um episódio de cólicas do lactente.

Cólicas do lactente: o que fazer e quais cuidados tomar

Primeiramente é necessário verificar se o choro está realmente sendo provocado por cólicas. Como não é possível identificar a causa da cólica, todos os outros possíveis motivadores do choro precisam ser descartados. Deve-se verificar se o bebê está em temperatura confortável – se não está sentindo frio ou calor -, se ele não precisa ter as fraldas trocadas ou se está com fome.

Se o bebê está saciado de todas as suas necessidades e ainda chora, é importante ficar atento. E verificar a regra dos 3: se ele chora por pelo menos 3h, em três dias da semana e por um período superior a três semanas. Se ele atende todas essas condições, é bem provável que esteja sendo acometido pelas cólicas do lactente.

Nos episódios de cólicas, há algumas práticas que podem ajudar a controlá-las, como:

Reduzir os estímulos ao bebê, evitando lugares barulhentos ou com excesso de gente
Pegar o bebê no colo
Flexionar as coxas do bebê sobre a barriga
Dar um banho morno
Aplicar compressas mornas na barriga
Tentar seguir, da forma mais rigorosa possível, uma rotina para banho, sono, passeio e outras atividades

Geralmente as cólicas cessam antes do bebê completar o quarto mês de vida. E são muitos os casos de bebês que não manifestam as cólicas ao longo de toda a infância.

É fundamental que os episódios de cólicas do lactente sejam relatados à pediatra nas consultas de puericultura. Mães, pais e responsáveis não devem administrar nenhum tipo de medicamento ou fazer nenhuma alteração na dieta do bebê, mesmo a simples inclusão de probióticos, sem antes consultar a pediatra.

Mães e pais, não se desesperem: um bebê de três meses não tem praticamente nenhuma habilidade e capacidade. Um dos únicos jeitos de demonstrar o que sente é chorando. As cólicas do lactente, apesar de serem um tormento para vocês, são uma parte razoavelmente normal do desenvolvimento dos deles. E vão demandar uma boa dose de paciência e atenção.