Vacinas e autismo

O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio complexo, causado por fatores genéticos e ambientais. Dentre estes, os principais são a idade avançada dos pais e as condições da gestação. As vacinas não são causa do transtorno. Em outras palavras, não há relação de causalidade entre vacinas e autismo.

Apesar das causas  do TEA ainda não serem completamente conhecidas, já se sabe que nenhuma delas está ligada às vacinas. Mas por que as pessoas ficam com essa dúvida, sendo que muitas acreditam que vacinas causam autismo? Como essa informação apareceu e por que ela ganhou tanta força na opinião pública? Neste texto vou derrubar o mito da relação causal entre vacinas e autismo para reforçar o que sempre digo: vacinas salvam vidas e todas as crianças devem ser vacinadas!

Transição alimentar

 

Entendendo a história

Em 1998 foi publicada na The Lancet, uma das revistas científicas mais respeitadas do mundo, um artigo produzido pelo médico inglês Andrew Wakefield e outros 12 autores. Tratava-se de um estudo preliminar com 12 crianças que apresentavam sinais de autismo e inflamação intestinal grave. Dentre elas, supostamente 11 tinham recebido a vacina tríplice viral, a que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A conclusão de que as crianças haviam recebido a vacina baseou-se na suposta identificação, a partir da realização de endoscopias e biópsias, de traços do vírus do sarampo nos pacientes.

O artigo sugeriu que as crianças tinham desenvolvido transtorno do espectro autista por causa das vacinas. O estudo foi amplamente divulgado por jornais importantes de todo o mundo, em grande medida pelo fato de ter sido publicado por uma prestigiada revista científica.

Se prestarmos atenção às características do estudo, é fácil perceber que ele possui muitas inconsistências. A primeira: ele analisou apenas 12 crianças. Não é possível fazer afirmações conclusivas quando o estudo é realizado sobre uma amostra tão pequena de pacientes. Estudos científicos para identificar causas e características de transtornos ou patologias devem analisar um número muito maior de pessoas.

Além disso, a falta de um grupo de controle. Das 12 crianças, supostamente 11 tinham recebido a vacina. Mas não foi levado em consideração outro grupo de 12 crianças sendo que 11 não tinham recebido a vacina. Assim seria possível comparar crianças que receberam e não receberam a vacina e identificar diferenças.

Contudo, os problemas desse caso não se restringem às características do estudo. Seis anos depois da sua publicação, uma investigação conduzida por Brian Deer, repórter do jornal britânico The Sunday Times, descobriu que Andrew Wakefield mentiu sobre o fato dos vestígios de vírus de sarampo terem sido identificados nos pacientes. O porquê da mentira? O médico tinha recebido quase 500 mil libras de um escritório de advocacia que representava um fabricante de medicamentos que iria lançar um imunizante que concorreria, no mercado, contra a vacina tríplice viral.

Diante das descobertas, o Conselho Geral de Medicina do Reino Unido conduziu uma investigação que concluiu que Andrew Wakefield agiu de forma irresponsável e antiética: sua mentira provocou um forte movimento antivacina, colocando em risco a saúde de milhões de crianças. O médico teve a sua licença cassada.

A revista The Lancet excluiu o artigo de sua base científica e publicou uma retratação, assinada por 10 dos 12 autores do artigo. A mentira estava descoberta, mas os efeitos negativos dela ainda perduram.   

 

Vacinas e autismo: correlação é diferente de causalidade

A história da mentira sobre vacina e autismo chama a atenção para um ponto fundamental em pesquisas científicas: correlações e causalidades não são a mesma coisa. Correlações são fáceis de encontrar, mas elas não explicam um fenômeno.

Para explicar a questão, vou usar exemplos de atendimentos que realizo diariamente, mais especificamente sobre patologias das vias aéreas inferiores. Tosse e febre são sintomas da pneumonia infantil. Em outras palavras, há uma correlação entre os sintomas e a doença.

Mas tosse e febre não são necessariamente causadas pela pneumonia infantil. Em outras palavras, não são todos os pacientes que apresentam tosse e febre que estão infectados com os agentes etiológicos que causam a pneumonia infantil. A tosse e a febre podem ser sintomas de outras doenças como bronquiolite ou coqueluche.

Explicações sobre causas de patologias ou transtornos devem ser sustentadas por estudos científicos amplos, sérios e rigorosos. No caso específico de vacinas e autismo, um trabalho que analisou resultados de muitos estudos – que, somados, investigaram mais de 1 milhão de crianças –  mostrou que as vacinas não causam autismo.

O que a ciência comprovou é que as vacinas salvam vidas. Por isso é fundamental acompanhar o Programa Nacional de Vacinação divulgado pelo Ministério da Saúde. Lá você acessa o Calendário Nacional de Vacinação e acompanha o período no qual deve vacinar sua filha ou filho.

E tão importante quanto se proteger de doenças é se vacinar contra mentiras, desinformação e fake news. Não acredite tão facilmente em qualquer informação que você receber. Consulte fontes seguras de informação e procure a pediatra da sua confiança para esclarecer qualquer dúvida.

Acesse outros textos sobre o mesmo tema

Morte precoce e TDAH

As consequências de sinais de falta de concentração em pacientes com deficit de atenção mostram que há uma relação entre morte precoce e TDAH

Visite os textos por cada tema

Cuidados com o recém-nascido

Nutrição

Patologias frequentes

Prevenção

Queixas mais comuns

Transtornos