Transtorno do processamento sensorial
Quem me acompanha no blog ou no Instagram já me ouviu dizer que transtornos neurobiológicos são condições de difícil diagnóstico, em grande parte, porque seus sinais e sintomas se sobrepõem. Um deles, muitas vezes associado ao autismo, é o transtorno do processamento sensorial.
Chamado até há algum tempo atrás de disfunção de integração social, o transtorno do processamento sensorial – conhecido pela sigla TPS – é uma condição neurobiológica caracterizada por uma dificuldade do cérebro em receber, organizar e responder às informações captadas pelos sentidos. No Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5, o transtorno do processamento sensorial é apontado como um sinal que aponta para o diagnóstico de diferentes transtornos como, por exemplo, autismo e esquizofrenia.
Contudo, na Classificação Diagnóstica de Saúde Mental e Transtornos do Desenvolvimento da Infância e Primeira Infância, a DC:0-5, o TPS é tratado como um transtorno. Isso porque, em crianças de até cinco anos, não é possível afirmar que um indivíduo que manifeste sinais de transtorno do processamento sensorial seja também autista, esquizofrênico ou tenha outro transtorno. Sendo assim, a pediatra pode diagnosticar uma criança de até cinco anos como portadora do TPS, dado que o paciente ainda não alcançou idade suficiente que permita o diagnóstico de outros transtornos.
De acordo com estudos publicados neste século, estima-se que entre 5 e 16% da população mundial seja portador do transtorno do processamento sensorial, sendo que ele é presente em 30 a 80% da população que possua outros transtornos.
Causas e sinais
Assim como o TDAH e o autismo, o transtorno do processamento sensorial possui causas multifatoriais sendo que as genéticas são as principais responsáveis pela condição. Contudo, prematuridade e falta de estímulos adequados no primeiro ano de vida também colaboram com o desenvolvimento do transtorno.
O que os estudos apontam é que, em crianças portadoras de TPS, há uma anormalidade nos feixes de substância branca do cérebro. Antes de explicarmos detalhadamente a anormalidade, vale falar da substância branca.
Conhecido coloquialmente como “massa cinzenta”, nosso cérebro é sim composto por uma grande quantidade de massa cinza. Localizada principalmente na camada mais externa, a massa cinzenta forma o córtex e é composta majoritariamente pelos neurônios.
A massa branca fica situada na região mais interna do cérebro, abaixo do córtex. Ela é formada, principalmente, por axônios mielinizados ou, em outras palavras, os prolongamentos dos neurônios envolvidos pela bainha de mielina.
A principal função da massa branca é a transmissão rápida de sinais nervosos, conectando diferentes áreas da massa cinzenta do cérebro entre si e com outras partes do sistema nervoso central. Como em pessoas portadoras do transtorno do processamento sensorial há anormalidades nos feixes de substância branca do cérebro, há alterações no tempo e na precisão da transmissão sensorial.
São essas as alterações que provocam os principais sintomas de pessoas portadoras de TPS:
- Hipersensibilidade → incômodo extremo com luzes, sons e texturas, tanto de roupas quanto de alimentos, o que acaba aumentando a seletividade alimentar em crianças autistas, no caso de pacientes com os dois transtornos
- Hipossensibilidade → Alta tolerância a dor e a estímulos táteis, necessidades de estímulos intensos – sejam sonoros, auditivos, visuais ou táteis – para interagir
- Busca sensorial → busca constante por movimento (correr, girar, pular, mastigar objetos não comestíveis) para gerar a percepção do mundo
Transtorno do processamento sensorial: diagnóstico, prevenção e tratamento
Assim como nos casos de autismo, é recomendado que uma equipe multidisciplinar avalie o paciente. Em casos de TPS, além da pediatra, principal responsável pela análise clínica, a atuação de um terapeuta ocupacional é fundamental. Ela vai conduzir a avaliação que também envolve os adultos que estão diretamente envolvidos no cuidado e educação da criança – pais e professores. Eles respondem questionários de avaliação necessários para formar o perfil sensorial da criança.
Dado que as principais causas do transtorno do processamento sensorial são genéticas, há poucas ações para atuar na prevenção. As principais são o pré-natal bem feito, buscando evitar a condição de bebê prematuro e as possíveis intercorrências pré-natal. Depois do parto, é fundamental fazer a devida prevenção neonatal realizando todos os testes de triagem neonatal – o do pezinho, o da orelhinha, o do olhinho e o do coraçãozinho – além da amamentação materna exclusiva nos primeiros seis meses de vida.
O tratamento é feito com sessões de terapia sendo que a que demonstra melhores resultados é a Terapia de Integração Sensorial de Ayres. Nas sessões, que são realizadas em salas equipadas com balanças, rampas, redes e tecidos com diferentes texturas, a criança passa por uma “dieta sensorial” controlada. Ela vai entrando em contato com os estímulos de forma adequada, para que ela consiga, ao longo do tempo, modular a própria percepção aos sentidos.
Se sua filha ou filho já tem diagnóstico de autismo, TDAH ou algum outro transtorno – ou se você suspeita que ele possa ter algum – faça contato e agende uma consulta. Vamos conversar sobre elementos do comportamento da criança; se ela for um caso de transtorno do processamento sensorial, iniciaremos o encaminhamento para o tratamento terapêutico. Quando iniciado precocemente, ele apresenta excelentes resultados!
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