Aprendizagem de crianças com TDAH

Há pouco menos de seis meses, quando falei aqui no blog sobre TDAH, destaquei que crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade possuem características metabólicas que impactam negativamente sua cognição, capacidade de concentrar atenção e de organizar informações complexas. Essas características metabólicas prejudicam a aprendizagem de crianças com TDAH, uma das queixas mais comuns de cuidadores que acompanham pequenas e pequenos que portam o transtorno.

Crianças com TDAH possuem uma desregulação na dopamina, um neurotransmissor que atua em diversos processos cerebrais como cognição, recompensa e respostas emocionais e motivacionais. Essa desregulação é provocada por fatores genéticos.

Também devido à hereditariedade, em crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade a atividade do córtex pré-frontal é reduzida, principalmente no que se refere à estrutura e intensidade dos circuitos. Por ser a região do cérebro responsável pela capacidade de concentrar atenção e organizar informações complexas, pequenas e pequenos que possuem o transtorno apresentarão sinais como falta de atenção e dificuldade de mantê-la, além de resistência em manter esforço mental prolongado – tarefas necessárias para a aprendizagem de crianças.

Transição alimentar

 

Entendendo em detalhes a dificuldade de aprender

No campo da Pedagogia, há uma ferramenta amplamente utilizada por educadores para medir o nível de apreensão de qualquer informação ou conceito: a taxonomia de Bloom, criada pelo psicólogo norte-americano Benjamin Bloom em 1956. Trata-se de um sistema hierárquico de classificação para medir a compreensão de uma pessoa.

De acordo com a taxonomia de Bloom, apreendemos de acordo com a sequência: Lembrar → Entender → Aplicar → Analisar → Avaliar → Criar. Dizendo de outra forma, só conseguimos entender uma informação ou conceito se conseguimos lembrar dele. Só aplicamos o que entendemos, só analisamos o que já aplicamos (mesmo que hipoteticamente), só avaliamos o valor da informação se conseguimos analisá-la e só é possível criar conceitos se sabemos avaliá-lo.

Em pessoas que não apresentam transtornos neurobiológicos, esse processo é fluido, acontece naturalmente. Já crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, autismo e outros transtornos de aprendizagem encontrarão dificuldades em alguma dessas etapas – normalmente as iniciais. Conforme explicamos nos textos sobre transtornos, estes são de difícil diagnóstico, em grande medida, por apresentarem-se associados no mesmo paciente. Uma revisão de estudos sobre transtornos que impactam a aprendizagem mostrou que cerca de 45% das crianças portadoras de TDAH também manifestam o que conhecemos como dislexia e discalculia, os transtornos de aprendizagem mais comuns.

Em outras palavras, a aprendizagem de crianças com TDAH acontece mais vagarosamente, em grande medida, porque elas possuem dificuldade de lembrar ou de entender algo que conseguiram memorizar. Para que isso fique mais claro, vamos entender o conceito de memória de trabalho.

Apontado pelos psicólogos britânicos Alan Baddeley e Graham Hitch em 1974, a memória de trabalho é a nossa capacidade de manter e manipular informação temporariamente para realizar tarefas imediatas. Ela é diferente da simples memorização porque, para além de apenas recordar, você precisa processar a informação para saber o que fazer com ela. Exemplo: você por alguns instantes decora um número para, em seguida, digitá-lo na tela do seu telefone e fazer uma chamada. Em outras palavras, a memória de trabalho é a nossa capacidade de armazenar uma informação já sabendo que iremos usá-la para realizar, em poucos instantes, uma tarefa.

Conforme já explicamos, há desregulação na síntese, recaptura, liberação e autorregulação da dopamina em crianças com TDAH. Essa desregulação, cuja principal causa é genética, impacta a capacidade de memorização. Em outras palavras, há evidências de que a aprendizagem de crianças com TDAH é impactada por sua bioquímica.  

 

Aprendizagem de crianças com TDAH: o que pais e cuidadores podem fazer?

Contudo, para além das explicações bioquímicas, nunca é demais lembrar que o cérebro é um órgão plástico, que se molda e se adapta para compensar certas deficiências. Para que esse processo se acelere, pais e cuidadores podem tomar algumas atitudes para favorecer a aprendizagem de crianças com TDAH.

Conforme explicamos no texto sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, não conseguir ficar parado muito tempo é um sinal frequentemente apresentado por crianças portadoras do transtorno. Sendo assim, busque evitar que a atividade de estudar em casa caia na rotina. Sim, sabemos que crianças precisam de uma certa quantidade de horas de estudo em domicílio para apresentar bom desempenho escolar. Mas altere o horário de início e fim dos momentos de estudo, modifique a quantidade e tempo dos intervalos entre um bloco de estudos e outro. Isso pode ajudar a evitar que a criança entre em estado de inquietação.

Como explicamos, crianças com TDAH têm dificuldade de memorização. Repetir e, principalmente, reapresentar um conceito, com outra abordagem, pode ajudá-lo a fixar a informação. Além disso, tente demonstrar conceitos da forma mais prática possível. Em uma demonstração, a criança pode alcançar mais facilmente o ciclo Lembrar → Entender → Aplicar.

Se sua filha ou filho tem TDAH e na sua avaliação, em conjunto com a escola, foi identificado pouco avanço na aprendizagem da criança, faça contato e agende uma consulta com a pediatra. Na análise clínica, investigamos a hipótese dos transtornos de aprendizagem estarem associados ao de déficit de atenção e hiperatividade  Na consulta, conversaremos sobre abordagens: elas podem ser conservadoras, como as terapias comportamentais – que costumam apresentar  ótimos resultados, principalmente em casos de diagnóstico precoce – ou com tratamentos que envolvem medicamentos. A análise multidisciplinar da condição da criança é o melhor caminho para recomendar a abordagem que trará mais bem estar e saúde para sua filha ou filho.

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