Intercorrências pré-natal

Há aproximadamente um ano publiquei no blog um texto sobre a consulta pediátrica pré-natal, destacando como os cuidados pediátricos começam antes mesmo do indivíduo vir ao mundo. Um dos principais objetivos desses cuidados é planejar o acompanhamento e tratamento das intercorrências pré-natal: doenças, síndromes e malformações do bebê que são diagnosticadas ainda na gestação.

Quem lê os textos que publico aqui no blog ou me acompanha no Instagram já me viu falar que uma das principais missões da pediatria é formar o adulto saudável. O primeiro passo dessa jornada é formar o bebê saudável e esta tarefa passa, necessariamente, por acompanhar a saúde do feto. Por isso que a consulta pediátrica pré-natal é a primeira da puericultura.

Quando conseguimos diagnosticar o mais previamente possível alguma das intercorrências pré-natal,  podemos mudar completamente a história daquela doença, síndrome ou malformação e, consequentemente, a história do paciente.

Transição alimentar

 

Intercorrências pré-natal: quais são as mais comuns

As intercorrências pré-natal representam um dos principais desafios para a saúde pública em todo o mundo. Há diversos tipos de intercorrências, com diferentes níveis de gravidade. Neste texto não falaremos daquelas que são incompatíveis com a vida como a anencefalia, a agenesia renal bilateral e as síndromes de Patau e de Edwards. Vamos focar nas intercorrências pré-natal que, quando precocemente diagnosticadas, podem ser tratadas, criando as condições para que o indivíduo evolua para uma vida normal ou com o mínimo de sequelas possíveis.

As doenças que mais comumente atingem os fetos são a toxoplasmose, sífilis, varicela, rubéola, citomegalovírus, herpes simples e zika – que é transmitida pelo mosquito da dengue e da chikungunya.

A maioria dessas doenças – varicela, rubéola, citomegalovírus, herpes e zika – são provocadas por vírus. Quando a gestante é diagnosticada com alguma delas, procede-se com o tratamento dos sintomas e, em alguns casos, são administrados medicamentos. Contudo, não há tratamento intrauterino para o feto.

Para a toxoplasmose e para a sífilis há tratamento, mas a abordagem é diferente. Nos casos de toxoplasmose há inicialmente um tratamento para evitar a infecção fetal. Quando ele não obtém sucesso, passam a ser usados medicamentos que atravessam a barreira placentária para também tratar o feto. Já nos casos de sífilis, os remédios usados no tratamento à mãe também tratam o feto.

Duas das doenças citadas trazem grande risco de morte para o feto quando ele é infectado: herpes e sífilis. As outras raramente são letais para os bebês mas podem provocar sequelas. As mais comuns são atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e déficit cognitivo.

Dentre as síndromes, a que é mais abordada na consulta pediátrica pré-natal é a de Down. Por si só ela não é letal mas boa parte dos indivíduos que possuem a síndrome costumam apresentar algum tipo de cardiopatia. Quando a pediatra já está ciente dessa intercorrência pré-natal, o acompanhamento do bebê é feito visando minimizar as consequências geradas pela cardiopatia.

Por fim as malformações. Nós a dividimos pelo sistema no qual ela é identificada. Abaixo as mais comuns:

  • Do Sistema Nervoso Central → Espinha bífida e hidrocefalia 
  • Gastrointestinais → Atresia do esôfago, gastrosquise e onfalocele
  • Do Sistema Urinário → Agenesia renal unilateral e rins policísticos
  • Cardíacas → Defeitos septais, transposição de grandes vasos, síndrome do coração esquerdo hipoplásico e tetralogia de Fallot, que também pode ser detectadas  pelo teste do coraçãozinho.

 

Boa parte dessas malformações podem ser corrigidas com cirurgias, muitas delas sendo realizadas pouco após o nascimento. Como a condição desses bebês é particular, o acompanhamento passa a ser ainda mais importante.  

 

O acompanhamento pré-natal feito pela pediatria

Toda criança deve estar em dia com as consultas de puericultura. Estas se tornam ainda mais mandatórias para bebês que enfrentaram alguma das intercorrências pré-natal enquanto estavam na barriga das mães.

Conforme já dissemos, muitas das sequelas geradas pelas intercorrências pré-natal geram atrasos que impactam a capacidade cognitiva das crianças. Para esses casos, o monitoramento adequado da nutrição da criança será ainda mais importante, uma vez que há uma íntima ligação entre alimentação e desenvolvimento neuropsicomotor.

Esse atraso cognitivo pode, no futuro, ser confundido com algum dos transtornos neurobiológicos, como o TDAH. Dado que eles são de difícil diagnóstico, as consultas de puericultura tornam-se ainda mais fundamentais para o correto acompanhamento do desenvolvimento da criança.

Como bebês que enfrentaram intercorrências pré-natal podem ter que ser submetidos a cirurgias, o sistema imunológico deles estará ainda mais exposto. Sendo assim, a prevenção neonatal será mais cuidadosa, com um olhar rigoroso tanto para vacinas quanto para todos os testes de triagem neonatal: o do pezinho, o do olhinho, o da orelhinha e o do coraçãozinho.

Para papais e mamães que ainda estão em fase gestacional e já tem diagnóstico de alguma doença, síndrome de malformação do feto, é recomendado selecionar a pediatra com antecedência. Assim ela terá o histórico do futuro paciente desde a fase fetal, favorecendo os tratamentos que serão necessários ao longo da infância e adolescência.

Acesse outros textos sobre o mesmo tema

Transmissão fecal-oral

Há várias doenças cujo método de contaminação principal é a transmissão fecal-oral: fezes contaminadas alcançam a boca de um indivíduo.

Visite os textos por cada tema

Cuidados com o recém-nascido

Nutrição

Prevenção

Patologias

Queixas mais comuns